segunda-feira, 24 de abril de 2017

Pequeno Guia Prático sobre a Bronquiolite e o VSR - Vírus Sincicial Respiratório

Quando o outono chega, as doenças respiratórias passam a ser um tema de atenção para quem tem filhos, especialmente os bebês. Hoje vamos desvendar alguns pontos sobre a bronquiolite, que costuma ser muito frequente nessa época do ano.

O vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos agentes dessa infecção aguda nas vias respiratórias superiores, que chamamos geralmente de gripe ou de um quadro viral. Pode afetar os brônquios e os pulmões, que são as vias aéreas inferiores, o que torna o quadro clínico mais grave, principalmente em crianças pequenas. 



Na maior parte dos casos, o VSR é responsável pelo aparecimento de bronquiolite aguda (inflamação dos bronquíolos, que são as ramificações cada vez mais finas dos brônquios que penetram nos pulmões, ate os alvéolos pulmonares, responsáveis pelas trocas gasosas). A bronquiolite acomete especialmente em bebês prematuros, no primeiro ano de vida, e crianças pequenas. Pode acometer outras faixas etárias mas é especialmente mais perigoso conforme mais nova é a criança, ou no caso de ter alguma doença crônica associada, como asma, cardiopatia congênita.

Esse vírus é bastante contagioso e pode-se ter esta infecção mais de uma vez, geralmente de formas mais leves na reincidência. Como outros vírus de "gripe", a maioria das crianças vai ter contato com o vírus ate 3 ou 4 anos de idade. Re-infecções ocorrem durante toda a vida, entretanto o acometimento de vias aéreas inferiores predomina na primeira infecção, principalmente em crianças menores de 2 anos.


O contato entre as crianças é naturalmente uma forma de transmissão do vírus

Transmissão

O VSR penetra no organismo saudável através da boca, do nariz ou dos olhos, e neles pode permanecer por semanas. O período de transmissão começa 4/5 dias antes de aparecerem os sintomas e só termina quando a infecção está completamente controlada.

O contágio se dá pelo contato direto com as secreções eliminadas pela pessoa infectada quando tosse, espirra ou fala e, de forma indireta, pelo contato com superfícies e objetos contaminados (brinquedos, por exemplo), nos quais o vírus pode sobreviver por várias horas.





Sintomas

A maioria das crianças com infecções respiratórias têm apenas sintomas leves, geralmente semelhantes aos sintomas de um resfriado comum. Em geral, é em crianças menores de 2 anos que a infecção pode evoluir para sintomas mais comumente encontrados em bronquiolite. 

Inicialmente, a criança terá um corrimento nasal, tosse leve e, em alguns casos, uma febre. Dentro de 1 a 2 dias, a tosse piora e ao mesmo tempo, a respiração da criança irá tornar-se mais rápida e difícil. Geralmente as gripes e resfriados geram um ruído de tom grave chamado de ronco de transmissão. Na bronquiolite aparece um som mais agudo, chamado de chiado. Fica difícil de mamar e dormir, mesmo sem febre, porque ele está tendo uma dificuldade para respirar.

A bronquiolite compromete a troca de gases e por consequência o aporte de oxigênio da criança, por causa da inflamação do sistema respiratório. Sempre existe a possibilidade de agravamento do quadro necessitando de internação, ou de Terapia Intensiva nos casos mais graves. Mas a maioria não irá necessitar desta forma de cuidados. 

Temos visto os pronto-socorros infantis lotados nessa época do ano e os casos de doenças respiratórias aumentando exponencialmente. Proporcionalmente, também aumentam os números de casos mais graves, e as internações em UTIs. 

As UTIS infantis estão lotadas com bebês que tem necessidade de receber oxigênio, medicação por via intra-venosa, fisioterapia respiratória e cuidados mais invasivos pelo quadro clínico mais grave. Não há necessariamente relação com pneumonia bacteriana nestes casos. Fica claro que nem toda criança acometida por bronquiolite deverá permanecer internada em hospital. Muito menos necessitará de UTI para melhora do quadro.

Quando devo procurar o PS?

Nem todo quadro viral precisa de atenção médica urgente. Podemos observar alguns sinais que diferem a bronquiolite das gripes comuns, antes de tomar a decisão de procurar um pronto socorro:
  • Chiado: as crianças com bronquiolite costumam apresentar um chiado cada vez que expiram o ar.  O chiado é um tom agudo, como um apito, diferente do ronco de transmissão.
  • Batimento de asas nasais: as narinas da criança abrem a cada respiração. Isso é um recurso fisiológico do do organismo para aumentar a entrada de ar, mas é indício de dificuldade respiratória.
  • Afundamento de Fúrcula: No final do pescoço/começo do tórax, aparece um afundamento cada vez que a criança inspira. Outro indício de que o corpo está se esforçando para puxar mais ar.
  • Costelas aparentes: Os ossinhos da costela aparecem quando a criança respira, outro sinal relacionado ao esforço para respirar.
  • Frequência respiratória: um parâmetro objetivo de mal estar é contar a frequência respiratória da criança sem febre e de preferência em repouso. 

Como contar a frequência respiratória: observe o abdome da criança deitada e identifique o ciclo completo da respiração (inspiração e expiração). Esse é um movimento. Marque um minuto no relógio, e conte quantas vezes a criança realiza o movimento respiratório. Pode também fixar a inspiração OU a expiração para contar. Caso a barriguinha esteja subindo pode contar quantas vezes a barriga sobe.

A frequência respiratória acima da indicada na tabela da OMS, pode indicar a necessidade de procurar um PS. Essa avaliação deve ser eita sem febre, pois com febre a criança pode ter aumento de frequência respiratória.




Diagnóstico Laboratorial

O diagnóstico específico do Vírus Sincicial Respiratório (VRS) e outros vírus respiratórios é realizados através da coleta de secreção respiratória. O melhor material para coleta é o lavado nasal. Entretanto podem ser utilizados swab nasal ou de orofaringe. 

A medição de oxigênio da criança ajuda a avaliar a gravidade do caso, indicando a necessidade ou não de internação e do uso de oxigênio .

O raio-x de tórax não é um exame específico para bronquiolites mas poderá indentificar uma pneumonia ou outro quadro pulmonar que não seja bronquiolite.

Tratamento

Não há tratamento específico pois se trata de um quadro viral.

Como para qualquer doença respiratória, as inalações com soro fisiológico costumam ser bem indicadas, mesmo sem medicação, por atuarem diluindo a secreção que se forma no sistema respiratório, hidratando as vias. 

Se você não tem um inalador em casa, o vapor do banho pode ser também uma forma de nebulização. Geralmente não ira sozinho resolver em caso de bronquiolites.

Outra forma de manter as vias hidratadas é a aplicação direta de soro nas narinas do bebê, além de fazer a remoção de muco acumulado nesta região.

Pode ser uma boa medida protetiva e de tratamento a limpeza do muco acumulado, usando-se sugadores e aspiradores nasais, que existem em vários modelos no mercado

Tanto o uso de soro nasal, inaladores e sucção de vias respiratóprias podem ser dificultados pela criança que tende a resistir a estes procedimentos. Mas acredito que o conforto que eles trazem depois justifica seu uso.



Se for identificado broncoespasmo, que é o estreitamento agudo das vias aéreas (normalmente identificado pelo chiado), o tratamento deve ser mais invasivo e com uso de medicações mais fortes. Pode ser o caso de fisioterapia respiratória e uso de anti-inflamatórios e broncodilatadores. Na situação de dificuldade de oxigenação ou nos casos de crianças de maior risco para complicações a internação pode ser a melhor opção.

A fisioterapia respiratória feita por profissionais capacitados auxilia na redução de internações para bronquiolites e pneumonias e eu recomendo sempre que se tratar de quadros respiratórios mais importantes.

É natural que crianças doentes tenham perda de apetite, sendo um dos primeiros sinais de melhora a volta do apetite. Portanto oferecer alimentos geralmente mais preferidos pela criança alem de ser uma fofice necessária, pode auxiliar na aceitação.

Líquidos calóricos como água de coco e sucos também podem ser oferecidos.

Vacina para o VSR (Palivizumabe)

Palivizumabe é um anticorpo monoclonal específico contra o vírus sincicial respiratório. Não é exatamente uma vacina, pois não estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos.

Quem pode usar o palivizumabe: recém-nascidos pré-termo com menos de 29 semanas de idade gestacional devem fazer uso durante o primeiro ano de vida; aqueles nascidos entre 29 e 32 semanas de gestação, até o sexto mês de vida; e portadores de doenças cardíacas e pulmonares nos dois primeiros anos de vida.

Prevenção

Por se tratar de contágio por vírus através das secreções da pessoa contaminada em contato com as mucosas, a melhor forma de prevenção é a higiene. Muito embora saibamos que no dia a dia das crianças, especialmente daquelas que frequentam escolas e que tem contato com outras crianças, seja bastante improvável que se consiga evitar completamente o contato com o vírus, adotar uma rotina de lavar as mãos e a face com sabão comum e alguma frequência pode ser uma boa ideia. 

Além disso é recomendado que as escolas e seus gestores estejam atentos para o aparecimento do VSR em suas unidades, comunicando as famílias de possíveis casos.

É sempre bom lembrar que estar em lugares fechados com pouca circulação de ar pode ser mais perigoso que estar ao ar livre mesmo no frio.Portanto, janelas abertas e brincadeiras ao ar livre são bons amigos das crianças no outono.

As estações mais secas do ano, como o outono e inverno, costumam contribuir para o aumento dos casos, e piora dos quadros. Portanto, a umidificação do ambiente pode ser uma medida de proteção. Uma toalha molhada no quarto ou uma bacia com água costumam ser boas ideias para aumentar a umidade do ar, e manter o sistema respiratório mais hidratado.

O leite materno é um fator de proteção para a saúde das crianças em qualquer idade e para qualquer doença. Assim, sempre cabe reforçar a importância da amamentação no sentido da prevenção e minimização das doenças da infância.