segunda-feira, 22 de abril de 2013

Retorno ao trabalho: e o sono do bebê, como fica?


Frequentemente ouvimos mães preocupadas com seu retorno ao trabalho e como será a reação do bebê que dorme sendo embalado ou amamentado. A verdade é que todas as crianças (e todas as mães) vivenciam um período difícil quando precisam separar-se por causa do trabalho. Neste artigo, seguem algumas dicas que levam em consideração o estado emocional de ambos, mãe e filho, para lidar com essa separação. 

Fatos importantes a serem considerados quando o retorno ao trabalho está próximo: 

1) O desenvolvimento do ser humano no primeiro ano de vida é extraordinário, cada fase, uma necessidade

O bebê triplica de peso no primeiro ano, se desenvolve em todos os aspectos (motores, cognitivos), começa a andar! Então, não se deve comparar um bebê recém-nascido com um de 4 meses, nem um bebê de 4 meses com um de 1 ano, por exemplos, pois serão praticamente outros bebês. 

Cada fase, uma necessidade: bebê novinho precisa muito de colo, aconchego, contato íntimo, amamentação em livre demanda. É da natureza dos bebês quererem colo de suas mães; na verdade esse é um ótimo hábito que foi desenvolvido em milhares de anos de evolução, pois os bebês que não demandavam atenção faleciam e, por isso, a seleção natural fez com que aqueles que viviam no colo sobrevivessem e esse gene foi passado adiante. Essas necessidades vão diminuindo conforme sua maturidade. 

A dica é aproveitar essa fase inicial, em que temos disponibilidade, e ficar com o bebê no colo, amamentar em livre demanda, sem privar o bebê do carinho e do colo de mãe que ele tanto precisa e tem direito. 

2) Os bebês são inteligentes e têm uma capacidade enorme de adaptação e de distinção de seus cuidadores. 

Eles podem reagir totalmente diferente com a mãe e com a babá ou com a professora do berçário (que eles sabem que não é a mãe). A capacidade e a inteligência dos bebês de distinguir seus cuidadores permite que eles criem modos de interação distintos com eles. Porém, é comum e esperado que o bebê demande sempre mais da mãe, porque sabe que pode, porque confia mais nela. 

Então, o bebê criará laços afetivos com o novo cuidador e eles se entenderão na nova forma de adormecer. E, no final do dia e à noite, de volta aos braços da mãe, o bebê pedirá mais carinho, mais afago, e muito provavelmente pedirá para mamar para adormecer, mesmo que não o faça com o cuidador durante o dia. Afinal de contas estarão com saudades e sabem que mamãe pode oferecer o peito e curtem estar nos braços de sua referência em amor e confiança. 

3) Não compensa promover separação prévia para ‘acostumar’ ou ‘preparar’ o bebê com o retorno ao trabalho. 

Não sofram por antecedência achando que têm de acostumar o bebê desde cedo a adormecer sozinho. Bebês não têm maturidade neurológica e compreensão para tal, então essa é uma expectativa irreal. Eles podem ter vários sentimentos e sensações que os perturbem durante a noite e precisam de nossa ajuda. Bebês demandam a mãe, mesmo no período noturno, e, especialmente, se ficaram longe dela durante o dia. A criança tem em sua mãe o referencial de segurança, estabilidade e afeto. 

Um bebê nunca fica ‘mal-acostumado’ por ter colo, embalo, acalanto, pelo contrário, precisam disso para continuar a se desenvolver. Revisamos isso em meu artigo anterior ‘A natureza do sono dos bebês’ (1). Portanto, não faz sentido promover um afastamento prévio entre vocês ‘pensando no futuro’; isso só acaba gerando sofrimentos desnecessários para ambos, mãe e bebê. Se a criança não tem colo quando pequeno, não tem no futuro, terá quando, então? Se seu marido tem uma viagem planejada para semana que vem, para ficar um bom tempo fora, você, para se acostumar com a ausência dele, já vai se preparando e deixa de dormir na mesma cama que ele, deixa de beijá-lo e de abraçá-lo? Ou faz o oposto e trata de aproveitar ao máximo os últimos dias antes da viagem? 

A questão, portanto, não é fazer o bebê 'se desacostumar' de colo, pois ninguém se desacostuma de uma necessidade física ou psicológica. A questão é, sim, ajudar o bebê a criar confiança em outro cuidador. 

4) "Treinar" ou condicionar o bebê a dormir sozinho vai contra sua natureza, e tem consequências. 

Condicionar o bebê a adormecer sozinho não vai ajudá-lo no próximo período de afastamento entre vocês, pelo contrário. Para ajudá-lo, é necessário que exista acolhimento e apego entre vocês, contínuo e íntimo, assim seu estado emocional vai se fortalecendo, ele se sente acolhido, importante e atendido, e vai lidar melhor com outras situações de separação. 

A maioria de planos de treinamento para bebês oferece o risco de dessensibilização dos sinais enviados, especialmente quando há choro sem consolo envolvido. Em outras palavras, ao invés de ajudar a descobrir o que os sinais enviados pelo seu bebê significam, esses métodos pedem que você os ignore. Nem você nem seu bebê aprendem nada de bom com isso. E, com a separação durante o dia entre vocês pelo retorno ao ao trabalho, a angústia do bebê tende a piorar (2). 

Um estudo recente mostrou que os bebês têm capacidade de prever respostas estressantes. Eles foram divididos em dois grupos, no primeiro as mães interagiam com eles continuamente, enquanto que no segundo bebês foram ignorados por elas por somente dois minutos. Os níveis de cortisol, hormônio do estresse, foram medidos após os experimentos. No dia seguinte, o grupo que foi ignorado teve níveis de cortisol mais elevados do que o grupo controle, provando que eles têm capacidade de antecipar o estresse (3). 

O cortisol em níveis elevados no cérebro do bebê pode ser corrosivo. O cérebro do bebê está em pleno desenvolvimento e a exposição desse hormônio por períodos prolongados impede a conexão entre alguns nervos e provoca a degeneração de outros. É possível que bebês que são submetidos a muitas noites de choro sem consolo sofram efeitos neurológicos prejudiciais que poderão ter implicações permanentes no desenvolvimento neurológico. Para ler um compêndio de artigos científicos sobre o tema cortisol e efeitos no desenvolvimento cerebral, veja a referência 4. 

É preciso ter senso crítico e usar de discernimento quando recebemos conselhos que prometem milagres. Esses métodos de condicionamento envolvem vários riscos; além dos efeitos neurológicos, podem criar uma distância entre você e seu bebê, e ele perde a oportunidade de construir confiança no seu ambiente. 

Algumas dicas práticas para mães preocupadas com retorno ao trabalho: 

- Busca de um novo cuidador: procure um novo cuidador que tenha disponibilidade emocional, que tenha chance de criar um laço afetivo com seu bebê, que tenha empatia e carinho, que o carregue no colo, não o deixe chorar e que o embale para dormir. Não é qualquer pessoa que tem preparo emocional para cuidar, acolher e maternar um bebê. É importante que ele se apegue ao novo cuidador, pois é dependente por natureza e precisa desse vínculo. A dependência natural é um fato biológico, e não resultado do excesso de mimo materno (5). 

Sendo creche, babá, parente ou outro cuidador, lembre-se sempre da disponibilidade emocional como requisito para cuidar de seu filho, pois não é simplesmente suprir suas necessidades físicas, mas é também dar amor, ter interesse e prover o afeto materno na ausência da mãe. Visite várias creches, procure locais onde dão colo, verifique se deixam os bebês o tempo todo em cadeiras, andadores ou outros aparatos. Se for esse o caso, é sinal que estão desprezando a importância do acolhimento emocional no início de vida do bebê que é tão crítico e fundamental para o resto de nossas vidas. 

Para a criança não é suficiente que lhe troquem as fraldas e lhe deem comida. O mais necessário e nobre alimento é o afeto, acompanhado de carinho, prazer e paz (6). 

- Envolvimento de outra pessoa no ritual de sono: encoraje o pai, por exemplo, a participar do ritual de sono do bebê desde cedo. Ele pode dar o banho e fazer uma massagem, por exemplo. Depois dos 3-4 meses, em média, se o bebê sempre adormece no peito, pode-se começar a alternar maneiras de adormecer para que ele não crie uma associação forte de sugar para dormir (7). Essa dica não é obrigatória considerando-se que os bebês têm capacidade de distinguir seus cuidadores (como citado no início do texto) e vai aprender a adormecer de outra forma com quem ‘não tem peitos’. Existem crianças que dormem mamando com suas mães em casa e na escolinha adormecem de outra forma com as cuidadoras, sem problemas. 

- Adaptação gradual: O bebê lidará melhor com essa separação se a adaptação for gradual, assim terá uma chance de criar um apego com o novo cuidador antes de separações longas de sua mãe. Para que o novo cuidador crie um bom apego com ele, criar chances de interação antes de deixá-los sozinhos é importante. 

Recomendo sempre que a mãe vá junto com o bebê e fique com ele no novo ambiente o tempo todo, pelo menos no início. Assim ele vai se familiarizando com o local, mas com a segurança de ainda estar sob os cuidados da mãe. Depois a mãe pode ir se afastando um pouco, gradualmente, enquanto dá a chance de o bebê se apegar à nova cuidadora. Porém, não há receita pronta, é questão de observar a criança e ter sensibilidade. A melhor qualidade que se pode esperar do cuidador é a empatia com o bebê. Novamente, oriente que lhe dê bastante colo, não o deixe chorar, mostre quais são os sinais de sono do bebê, deixe que ele durma as sonecas no colo para dar um consolo afetivo na ausência da mãe. 

- E se o bebê tem ansiedade da separação? 

Nos primeiros meses, a relação mãe e filho é altamente intuitiva, primitiva mesmo. O bebê não sabe que nasceu e acha que o corpo da mãe é continuidade do seu e que o seio que o alimenta e lhe dá carinho e prazer faz parte de um todo ao qual ele pertence. Então, gradualmente e após o sexto mês é que os bebês vão se dando conta de que são outros seres e essa percepção de individualidade fica mais clara e evidente. Assim, progressivamente, vai se estabelecendo o desenvolvimento psicoafetivo, motor, alimentar e cognitivo da criança (6). 

Algumas idéias práticas: 

Pratique separações rápidas e diárias 

Durante seus dias juntos crie oportunidades de expor seu bebê a separações visuais breves, seguras e rápidas (brincar de esconder o rosto e logo reaparecer é ótimo e eles adoram!). Incentive que seu bebê brinque com um brinquedo interessante ou com outra pessoa e, quando ele estiver feliz e distraído com o brinquedo ou com a pessoa, caminhe calma e lentamente para outro quarto. Assobie, cante, murmure uma canção ou fale, de modo que seu bebê saiba que você ainda está por perto, mesmo que não possa vê-la. Pratique essas separações breves algumas vezes ao dia numa variedade de situações diferentes. 

Evite a transferência de colo para colo 

É muito comum passar o bebê do colo de um cuidador para outro. O problema é que cria ansiedade na criança sair da segurança dos braços da mãe e ser fisicamente transferido para os braços de outra pessoa que lhe é menos familiar. Essa separação física é a mais extrema na mente do bebê. Para reduzir essas sensações de ansiedade faça a mudança com seu bebê num lugar neutro, como brincando no chão ou sentado numa cadeirinha, cadeirão de alimentação ou bebê conforto. Peça para o cuidador sentar do lado de seu bebê e interagir com ele, enquanto isso você fala um ‘tchau’ rápido, porém positivo, num tom feliz. Assim que você sair é um bom momento para o cuidador pegar seu bebê no colo, e a vantagem é que o cuidador vai ser colocado na posição de ‘salvador’ e isso pode ajudá-los nessa relação. 

Entenda a ansiedade de separação como um sinal positivo! 

É perfeitamente normal - até maravilhoso - que seu filho tenha esse bom apego e que deseje essa proximidade com você e sua presença constante. Parabéns! Isso é a evidência de que o laço afetivo que você criou desde o início está seguro. Se for o caso, ignore educadamente as pessoas que te dizem o oposto. 

Relaxe em suas expectativas de independência, isso certamente irá ajudar seu bebê a relaxar também e a ter menos ansiedade nos momentos de separação entre vocês (8). 

- Lembre-se, o acolhimento na infância tem resultado positivo na vida adulta! 

Uma pesquisa recente (9) revelou que a afeição maternal dada aos bebês torna-os adultos mais bem preparados para enfrentar os problemas da vida. Cientistas compararam dados das relações de afeto e atenção e desempenho emocional de bebês de 8 meses com suas mães. Essas pessoas foram acompanhadas e testadas aos 34 anos de idade sobre vários sintomas emocionais. Qualquer que fosse o meio social, ficou constatado que os bebês com bom apego emocional aos 8 meses tinham os níveis de ansiedade, hostilidade e mal-estar mais baixos quando adultos. Isto confirma que as experiências na primeira infância têm influências na vida adulta. 

D.W. Winnicot, um pediatra famoso que depois se tornou psicanalista diz que a capacidade de ser feliz de um ser humano depende, além de todos outros fatores, de um tempo (a infância até os seis anos, mas principalmente o primeiro ano de vida), e de uma pessoa (uma mulher, a mãe). Se a mãe não está presente, outro cuidador que entenda esses conceitos e que atenda as necessidades do bebê se faz necessário. 

É uma responsabilidade sim, de assustar! E é realmente intrigante que pessoas tenham filhos sem saberem nada disso, sem se darem conta da importância desse relacionamento profundo, do vínculo necessário que se forma nesse período, e quando as mães retornam ao trabalho fora de casa colocam cuidadores em seu lugar que somente cuidam da parte física (6). 

- Não ofereça mamadeira e nem desmame seu bebê: Com o retorno ao trabalho, muitas mães se preocupam porque os bebês não aceitam a mamadeira e tentam todo tipo de bicos e leites artificiais diferentes. Às vezes até mesmo o pediatra sugere o desmame. É situação comum bebês que rejeitam veementemente a mamadeira, isso é sinal de inteligência, pois a primeira reação da natureza é mesmo rejeitar outros tipos de alimentação que não o seio materno. 

Na verdade é um erro acreditar que o bebê precisa de uma mamadeira quando você retorna ao trabalho e que você deve acostumá-lo com antecedência. Se você treiná-lo a acostumar-se com uma mamadeira, o que provavelmente acontecerá é um desmame precoce por confusão de bicos. Sempre ouvimos uma história ou outra de bebês que não desmamaram, mas esse risco é grande e não há como prever, então é melhor prevenir e alimentar seu bebê com um copinho. 

Além disso, é preciso citar que, mesmo com a oferta de leite materno ordenhado em uma mamadeira, muitos bebês rejeitam. Dr. González (10) explica esse fenômeno: 

E a razão é que os bebês não são bobos. Se a mãe não está em casa e a avó vem com uma mamadeira (ou melhor ainda, com um copinho para evitar confusão de bicos), duas coisas podem acontecer. Primeiro, se o bebê não estiver com fome, ele provavelmente não aceitará nada. Ele vai compensar isso quando a mãe retornar. Muitos bebês dormem a maior parte do tempo quando estão distantes das mães, e então vão mamar à noite. A outra possibilidade é, se o bebê estiver com fome (e especialmente se tiver leite materno na mamadeira), ele poderá tomá-la e pronto. E ele deve estar pensando: ‘Bem, ela não está aqui, então é isso que eu tenho que fazer’. Mas se a mãe está em casa e o bebê pode ver e sentir o peito, como ele vai aceitar um copinho ou mamadeira? Ele deve pensar: ‘Minha mãe deve estar louca, ela tem o peito aqui e quer me dar essa geringonça?’ E ele insiste: ‘É o peito ou nada!’ ” 

Se o bebê é novinho e não há possibilidade de ordenha de leite materno, pode-se tentar uma alimentação mista, com a mãe amamentando antes e depois do trabalho e o bebê tomando leite artificial durante o dia. Muitas mães encontram soluções satisfatórias melhores que oferecer leite artificial: algumas levam seus bebês para o trabalho (se o ambiente permite), outras trabalham meio período, algumas conseguem que o bebê seja levado a elas para serem amamentados, outras ordenham e estocam seu leite. Se o bebê já tiver mais de seis meses de idade, pode-se planejar que o bebê se alimente de comida na sua ausência, embora há de se ter cautela se forem os primeiros alimentos. 

A amamentação é parte essencial da vida do bebê até 2 anos no mínimo e auxilia na separação parcial entre mãe e filho quando ela retorna ao trabalho fora de casa. Pode-se planejar ordenha de leite materno e continuação da amamentação nos períodos que mãe e filhos estão juntos. O desmame junto com o retorno ao trabalho pode ser bem traumático para o bebê (10): 

Quando você sai para o trabalho (ou quando sai com o cachorro), o seu bebê não sabe onde você está e quanto tempo você vai demorar. Ele ficará muito assustado e chorará como se você fosse deixá-lo para sempre. Vai levar alguns anos até que seu bebê seja capaz de ficar longe de você sem chorar e antes que ele entenda que a ‘mamãe vai voltar logo’. Toda vez que você voltar, vai abraçá-lo, amamentá-lo e o bebê pensará: ‘outro alarme falso!’. Mas se você retornar ao trabalho e tentar desmamá-lo abruptamente e ao mesmo tempo, quando você volta do trabalho, o bebê pede para mamar e você recusa, o que o bebê irá pensar? ‘Ela me abandonou porque não gosta mais de mim.’ Esse é o pior momento para o desmame.” 

- Então como fica a alimentação do bebê? Se você volta a trabalhar quando o bebê tiver menos de 1 ano, planeje com antecedência como ordenhar (alugue ou compre uma bomba elétrica), estocar e oferecer o leite materno para o bebê. Veja orientações na referência 11. Use um copinho ou mamadeira-colher para oferecer o leite ordenhado e não mamadeira. Se ele tiver mais de 1 ano, pode alimentar-se de sólidos e mamar quando estiverem juntos. 

- Tenha mente aberta para cama familiar: Alguns bebês passam a mamar à noite com mais frequência para compensar as mamadas perdidas durante o dia quando a mãe volta a trabalha fora. Isso é chamado ‘amamentação em ciclo reverso’ e é um mecanismo de sobrevivência de nossa espécie. Nesses casos, praticar cama compartilhada e amamentar deitada pode ajudar a saciar as necessidade do bebê ao mesmo tempo em que os hormônios da amamentação auxiliam mãe e bebê a adormecerem novamente (12-14). O bebê fica mais tranquilo ao saber que, mesmo passando o dia todo longe da mãe, à noite estará com ela. A proximidade com o corpo materno sintoniza as pautas de sono do bebê com as da mãe e regula o seu nível de excitação, temperatura corporal, o ritmo metabólico, níveis hormonais, ritmo cardíaco, respiração e sistema imunológico, pois o efeito anti-estresse do estreito contato físico libera ocitocina, que fortalece o sistema imunológico do bebê (12-15). 

Nem todas as famílias adotam cama compartilhada por receio de ser difícil conseguir que a criança durma sozinha depois. A reflexão aqui é de que as necessidades mais intensas de proximidade se dão na primeira infância: bebês têm necessidade de proximidade com a mãe (15) e a cama compartilhada responderia a essas necessidades. Mais tarde, seria um outro momento, com o bebê com outra cognição, maturidade e evolução. 

Se a criança dorme longe dos pais à noite, fica longe durante o dia e, principalmente, se o bebê não mama mais no peito (portanto não tem o contato íntimo da amamentação), precisa de alguma compensação afetiva e se beneficiaria da proximidade da cama familiar. O mesmo acontece se o bebê estiver em processo de angústia da separação, que se inicia entre 6-8 meses e vai até 2-3 anos, com altos e baixos. 

Quando os bebês sinalizam que precisam de contato corporal com os pais, mostrar empatia, entender e acolher é excelente, pois a criança que se recusa a dormir pode estar precisando de mais contato corporal com o pai e a mãe. É uma necessidade primitiva da criança ter contato íntimo com a pele do corpo de outra pessoa enquanto adormece, mas isso se choca com todas as regras culturais que exigem que as crianças durmam sozinhas (16). 

- Procure seus direitos de licença maternidade de seis meses, negocie com o chefe, tire férias junto com a licença, adie alguns planos, trabalhe meio período, procure um emprego mais flexível, procure trabalhos que possa fazer em casa. 

Esses dois meses a mais fazem toda a diferença para a criança: a amamentação exclusiva por 6 meses diminui o risco de alergias (17), dermatite atópica (18), asma (19), infecções gastrointestinais (20), doenças contagiosas (21), otite média, infecções respiratórias agudas, gastroenterite, infecções urinárias, conjuntivite e candidíase oral (22). A introdução de alimentos aos 6 meses é feita na hora ideal, quando o bebê já tem capacidade fisiológica para assimilar os alimentos novos (23). Muitos bebês têm reações indesejadas com a introdução de alimentos antes dos seis meses, como prisão de ventre, refluxo, cólicas e é claro que tudo isso atrapalha o sono. Se não tem outra solução, invista na ordenha, estoque e oferecimento de leite materno para o bebê até os 6 meses. Veja na referência 11 como ordenhar e estocar o leite materno e utilize um copinho ou mamadeira-colher para oferecer ao seu bebê. Muitas mães que trabalham podem e devem investir na amamentação exclusiva por 6 meses e esse trabalho todo compensa. 

- Lidando com a separação: entenda a reação do bebê e mostre empatia (apesar do cansaço): sua volta ao trabalho e afastamento é algo bem complicado para um bebê, porque é você a mãe dele, você é insubstituível da forma que você é para seu filho. Outros cuidadores irão criar vínculos afetivos com seu bebê, mas a mãe tem outro peso. Entenda a amamentação em ciclo reverso como uma forma de compensação afetiva. Entenda e acolha as necessidades do bebê (que são simples, mas são intensas, de muito contato íntimo, colo, peito). Esse acolhimento é essencial para o desenvolvimento de sua autoestima no futuro. 

O padrão de sono do bebê com outro cuidador pode mudar e essa mudança pode interferir no sono noturno. O bebê cansado (caso não tire boas sonecas na escolinha, por exemplo) está secretando mais cortisol, que causa agitação fisiológica, irritação e dificuldades de adormecer. A exaustão é contraproducente com o sono, pois quanto mais exausto, mais lutará contra o sono e mais acordará à noite. Se as sonecas estão muito curtas na escola é comum que o sono noturno também seja influenciado. Orientar as cuidadoras a esticarem as sonecas, explicar a importância das sonecas durarem pelo menos 1 hora para serem restauradoras, usar algum barulho estático ao fundo para ajudar nas sonecas são atitudes que você pode tomar. 

Dra. Andréia K. Mortesen, neurocientista 

Publicado originalmente no Guia do Bebê, do UOL, em 9/11/2010 




quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mais do sono por Carlos Gonzáles

por ellyguevara
do livro “besame mucho”, do pediatra espanhol Carlos Gonzales grifos de Ana Basaglia 

(…) Os nossos filhos estão geneticamente preparados para acordar periodicamente. Os nossos filhos herdaram os genes dos sobreviventes, dos vencedores da dura luta pela vida. Não dormem de um só sono, pelo contrário, passam, como os adultos, por vários ciclos de sono durante a noite. A duração de cada ciclo é variável, entre apenas vinte minutos e um pouco mais de duas horas; a duração média vem a ser de hora e meia nos adultos, mas apenas de uma hora nos bebés. Entre cada ciclo, passamos por uma fase de “despertar parcial”, que facilmente se torna despertar completo.

Mesmo os especialistas que “ensinam as crianças a dormir” reconhecem esse fato; o objetivo dos seus métodos não é conseguir que a criança não acorde, isso é impossível. O que querem é que, quando acorda, em vez de chamar pelos pais, se mantenha calada até voltar a adormecer.

As crianças “estão de guarda” para se certificarem de que a mãe não se foi embora. Se o bebé consegue cheirar a mãe, tocar-lhe, ouvir a sua respiração, talvez mesmo mamar, volta a adormecer de seguida. Em muitas das vezes, nem a mãe nem o bebé despertam completamente. Mas, se a mãe não está, a criança acorda completamente e começa a chorar. Quanto mais tempo tiver chorado antes que a mãe lhe acuda, mais nervosa estará e também mais difícil de consolar. 

(…) 

Há sempre uma alma caridosa que explica aos novos pais: “Não se preocupem, isso apenas acontece ao princípio; à medida que cresce, dormirá cada vez mais.”
Como vai dormir cada vez mais? Os recém-nascidos dormem mais de dezesseis horas por dia; uma criança que durma mais entra em coma. Os adultos dormem cerca de oito horas por dia, ou menos, por isso, em algum momento do nosso crescimento, temos de ir deixando de dormir.

“Claro”, dizem alguns, “dormem menos horas no total, mas durante a noite dormem mais horas seguidas”.

Talvez isso aconteça em alguns casos; mas noutros acontece exatamente o contrário. (…)
Investigadores norte-americanos estudaram os padrões de sono de um grupo de crianças, entregando questionários periódicos às mães. Todas as crianças incluídas no estudo tinham sido amamentadas durante pelo menos quatro meses, mas, aos dois anos, apenas metade continuava a mamar.

Observaram que o fato de acordar ou não durante a noite dependia do fato de a criança continuar a mamar ou ter sido completamente desmamada.

Estas últimas dormiam cada vez mais horas: nove horas seguidas aos sete meses e dez até aos vinte e quatro meses. As crianças que eram amamentadas pareciam seguir o mesmo caminho só no início; aos dois meses já dormiam seis horas seguidas e aos quatro meses, sete horas, mas depois dos quatro meses ficavam mais ativas e, entre os sete e os dezasseis meses, dormiam apenas quatro horas seguidas. Aos vinte meses dormiam sete horas (parece que por fim começavam a dormir!); mas era um falso alarme e, aos vinte a quatro meses, dormiam apenas cinco horas seguidas.

Também o tempo total de sono era diferente; as crianças que já não mamavam dormiam durante o dia uma ou duas horas mais do que aquelas que continuavam a mamar. Muitas das crianças que eram amamentadas dormiam com a mãe, mas passavam a dormir sozinhas pouco depois de deixarem de o ser. Estas crianças que dormiam com a mãe despertavam ainda com maior frequência durante a noite: aos vinte e quatro meses, as crianças que mamavam e ficavam com a mãe dormiam quase cinco horas seguidas; as que mamavam, mas que dormiam sozinhas, quase sete horas; as que não mamavam e dormiam sozinhas, nove horas e meia. … difícil saber se acordam porque estão com a mãe, ou se as deixam dormir com a mãe precisamente porque acordam frequentemente, ou se acordam igualmente, mas, quando estão noutro quarto, a mãe não dá por isso. Provavelmente, qualquer uma destas razões contribui um pouco.

A duração normal do período de lactação, para um ser humano, segundo diversos dados antropológicos e de biologia comparada, parece ser entre os dois anos e meio e os sete. Numa amostra de mães norte-americanas que faziam parte de grupos de apoio à lactação e que tinham amamentado durante mais de seis meses, a idade média do desmame encontrava-se entre os dois anos e meio e os três, e algumas crianças tinham mamado durante sete anos. As crianças desmamadas entre os quatro e os sete meses e que começavam a dormir durante mais horas seguidas mamavam menos do que o normal e dormiam mais do que o normal. O normal é aquilo que fazem as crianças de peito: acordar com maior frequência depois dos quatro meses.

Isso contribuiu para a sobrevivência dos nossos antepassados, permitindo que as crianças mantivessem o contato contínuo com a mãe. Não sabemos por que razão as crianças que são alimentadas artificialmente apresentam um padrão anómalo de sono. Os fabricantes de leite artificial continuam a procurar que o seu produto seja “o mais parecido possível com o leite materno”; pode ser que algum dia solucionem também este pequeno problema de excesso de sono nas crianças

sábado, 13 de abril de 2013

Primeiros Cuidados - Está chegando a hora delas



Até há pouco tempo, recém-nascidos tomavam água nas “chuquinhas”, o sal fazia parte da dieta dos bebês, best-sellers para pais de primeira viagem receitavam banana amassada com três colheres de sopa de açúcar para filhos de poucos meses e dava-se chazinho aos pequenos. Todas essas prescrições já foram superadas. Agora, outro hábito muito comum começa a ser deixado de lado nas recomendações de pediatras e puericulturistas: a mamadeira.

Após o seio da mãe, os bebês devem ir direto para o copo, segundo os especialistas em amamentação e alimentação infantil. Para eles, a mamadeira é um hábito cultural que precisa ser superado. “Pode parecer radical ser totalmente contrário à mamadeira e não recomendá-la em momento algum da vida da criança”, reconhece o pediatra e puericulturista Marcus Renato de Carvalho, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e editor do site Aleitamento.com. “Mas esse conhecimento é resultado da evolução da ciência”, completa.

“A mamadeira é um equívoco e só é usada porque falta informação e bons serviços de saúde em hospitais, postos de saúde e consultórios”, concorda o também professor José Martins Filho, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro da Academia Brasileira de Pediatria e autor do livro Como e por que Amamentar (Editora Sarvier).
Para os pais que já apresentaram a mamadeira aos filhos, nada de pânico. É possível mudar o hábito e migrar para os copos com tranquilidade (leia quadro na página 33). “Se, por exemplo, uma criança foi amamentada exclusivamente no seio até os seis meses e usou mamadeira para consumir água e sucos por um ano depois disso, os pais não precisam sentir culpa. Muito provavelmente, nenhum dano foi causado. Mas não há necessidade de oferecer algo que pode trazer prejuízos. Aos seis meses, a criança pode ir direto para o copo”, diz Carvalho.


confusão de bicos A moderna orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é alimentar o bebê exclusivamente com leite materno, preferencialmente no seio e sem necessidade de qualquer outro complemento, até os seis meses de idade – quando começam, então, a serem dadas as papinhas de legumes e frutas, depois os demais grupos alimentares, com continuação do aleitamento materno até os dois anos.

No primeiro semestre de vida do bebê, portanto, o uso da mamadeira deve ser evitado ao máximo. “É preciso que os pediatras, obstetras, enfermeiras, enfim, todas as pessoas que lidam com mães e crianças defendam, antes de tudo, o aleitamento materno”, afirma Martins Filho.

O principal problema do acessório reside no que se costuma chamar de “confusão de bicos”. Assim que nasce, o bebê tem os reflexos de sugar e deglutir que lhe permitem uma pega correta do seio, que envolve o mamilo e a aréola. Numa boa pega, a língua fica por baixo (no assoalho da cavidade oral), para pressionar o osso do céu da boca, formando um movimento ritmado, como uma onda.
Assim, ele consegue ordenhar os ductos, esvaziando os seios e satisfazendo-se.

Ao ser apresentado ao bico artificial da mamadeira – e também ao das chupetas –, a criança passa a posicionar erroneamente a língua na hora de sugar o peito materno, o que pode levar ao desmame precoce. Na posição errada, o recém-nascido só abocanha o mamilo, não conseguindo esvaziar os seios, o que causa fome, choro e insatisfação ao bebê, e dor, rachaduras e tensão à mãe. 

Com o bico artificial, o movimento é mais passivo: usam-se os músculos das bochechas e de abertura da mandíbula para chupar o líquido por meio do vácuo. A língua fica no fundo da boca, apenas controlando o excesso de fluxo. Com a facilidade, a criança tende a preferir a mamadeira ao seio. E, de acordo com o Ministério da Saúde, os números pedem alerta: mais de 62% dos bebês com menos de um ano já consomem líquidos via mamadeira.

“O aleitamento materno deve ser sempre estimulado porque, além de dar ao bebê substâncias fundamentais para o seu desenvolvimento físico e emocional, protege a própria mãe contra câncer de mama, diabetes, hipertensão arterial e obesidade”, afirma Martins Filho. Entre outras coisas, o leite materno previne diarreias e pneumonias, que estão entre as mais importantes causas de mortalidade infantil de crianças com menos de 1 ano de idade.


obesidade O problema não é só o risco de desmame precoce. Estudos vêm relacionando cada vez mais a utilização das mamadeiras à obesidade infantil e ao aparecimento de cáries.

Pais e mães oferecem o acessório aos filhos como consolo a choros e manhas ou como uma medida tranquilizante na hora de dormir – tal como se faz com o seio materno, aliás. E aí reside o erro. Geralmente, as mamadeiras contêm fórmulas hipercalóricas, que, consumidas diversas vezes por dia, favorecem o ganho de peso.

Além disso, comumente o choro por sede é confundido com o de fome, o que aumenta a ingestão de calorias desnecessárias. “A mamadeira não é exatamente a ‘vilã’ da obesidade infantil e das cáries. Este posto cabe, sim, às fórmulas ou ao leite de vaca que ela contém”, aponta Martins Filho.

Em um estudo publicado em maio de 2011, pesquisadores da Universidade Ohio State e da Universidade Temple, dos Estados Unidos, constataram que 22,3% das crianças norte-americanas fazem uso prolongado da mamadeira – ou seja, utilizam-na além dos 2 anos de idade como principal forma de ingestão de líquidos e têm o hábito de dormir sugando o bico artificial. Dentre as que abandonaram a mamadeira antes dos 2 anos, 16,1% foram consideradas obesas aos 5 anos e meio. Já no grupo das que ainda a usavam, esse índice subiu para 22,9%.

Uma única mamadeira pode suprir grande parcela da necessidade diária de calorias de uma criança, segundo os pesquisadores. Por exemplo, uma menina de dois anos, com 12 quilos e 86 centímetros de altura, ao tomar uma mamadeira de leite integral de 220 gramas recebe 12% de suas necessidades diárias de calorias (cerca de 1.300).
“Se a criança está estressada, damos mamadeira. Com isso, fazemos uma associação direta do estresse com o prazer oral. Isso pode resultar em adultos com problemas de compulsão por comida, bebida e cigarro”, afirma Carvalho. A solução, diz ele, é usar e abusar do colo: “A atenção dos pais é muito mais eficaz e não causa nenhum dano”.


cáries Em relação às cáries, a situação é agravada pela oferta noturna de mamadeira, quando os pais geralmente dispensam a higienização dos dentes. Só que, ao longo da noite, o corpo produz menos saliva, favorecendo a proliferação de bactérias. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 11,7% das crianças de até 2 anos têm cárie decorrente do uso dos bicos artificiais.

Os dentes, a língua e as gengivas dos bebês precisam ser limpos após cada mamada ou ingestão de alimento. Isso pode ser feito com uma fralda, gaze ou cotonete umedecidos em uma solução contendo uma colher de sopa de água oxigenada, dissolvida em três colheres de água fervida. Após a erupção dos molares (aqueles dentes mais ao fundo da mandíbula, usados para mastigar), pode-se recorrer às escovas dentárias.

Tomar mamadeira por muito tempo, assim como usar chupeta, pode causar alterações na formação da arcada dentária e da cavidade nasal, com prejuízos à saúde no longo prazo (rinite, sinusite e síndrome do respirador bucal – uma alteração na passagem do fluxo aéreo, que segue pela boca em vez de pelo nariz).
Vale lembrar que, além de tudo, os bicos artificiais são uma grande fonte de contaminação. Por isso, precisam ser lavados e esterilizados imediatamente após seu uso, para evitar a formação de colônias de bactérias. 



Ajude seu filho a migrar para o copo

Não existe técnica infalível. Mas uma das dicas que costumam funcionar para a maioria das crianças é fazer com que a vontade de largar a mamadeira surja por meio do exemplo – seja dos familiares, seja de outras crianças da escola.

“É comum que na escola tenha uma criança que largou a mamadeira de maneira rápida e outra que ainda usa. O convívio de ambas acaba por estimular aquela que ainda não abandonou a mamadeira a começar a usar um copo ou uma caneca”, exemplifica o pediatra Luiz Carlos Bueno, das unidades do Hospital São Luiz no Itaim Bibi e Anália Franco. “Há nessa ação uma vontade implícita da criança de crescer”, aponta. Ele recomenda que os pais tenham paciência e respeitem o tempo do filho.

“Começar a mudar gradativamente os hábitos de alimentação da criança também pode ajudar”, comenta Bueno. Depois da fase de aleitamento materno exclusivo, podem-se introduzir frutas e, numa etapa posterior, alimentos com sal. “Se a mãe passa a incentivar mais o consumo desses itens, é mais fácil para a criança abandonar a mamadeira”, afirma.

Nas poucas situações em que o aleitamento materno é impossível (mães portadoras de HIV ou que tomam medicamento que contraindicam a amamentação, bebês prematuros ou muito abaixo do peso), às vezes usa-se um copo especial (chamado copinho do bebê), com borda virada para fora, anatômica à boca do recém-nascido e feito em vidro, fácil de limpar e esterilizar.

Para crianças mais velhas, há os copos de transição (com tampa e alça) ou mesmo os copos e xícaras comuns – neste caso, é importante que haja sempre um adulto acompanhando a alimentação, para evitar acidentes.





sexta-feira, 5 de abril de 2013

Recomendado por pediatra!


Postado por Irene Chissa Nagashima

Depoimento do Dr Carlos Eduardo Corrêa (Cacá), neonatologista e pediatra de São Paulo.

Desde que um grupo de mulheres começou a combinar ir ao cinema com seus bebês, achei incrível a ideia para reverter o conceito de que a maternidade é caracterizada por reclusão, imposta muitas vezes por uma convenção social que exclui mães e bebês do convívio público. Ao contrário, o CineMaterna é uma experiência que traz a oportunidade de convivência com pessoas diferentes, mas que estão passando pela mesma situação.

É possível ser mãe e se divertir, ter um momento de prazer pessoal acompanhada de seu filho. Tenho sugerido às mulheres que ganharam seus bebês que frequentem ambientes que possibilitem um convívio grupal e a troca de experiências. É uma oportunidade de perceber o que é universal na maternidade e o que é peculiar na sua relação com o seu bebê. É possível desconstruir mitos e fantasias e construir um olhar particular da sua situação e de quem é seu bebê.

O ambiente do CineMaterna é acolhedor. Som mais baixo, ar condicionado suave e trocadores na sala garantem conforto para as mães e seus filhos. Além das coordenadoras disponíveis para auxiliar, caso necessitem. A programação é escolhida pelos frequentadores e dirigida a adultos. Um prazer poder sair de casa e assistir a um filme, mesmo tendo um filho pequeno.

O que mais me agrada, como pediatra, é a oportunidade de, após a sessão, conhecer outras mães e conversar. As rodas de conversa juntam pessoas que estão vivendo uma situação parecida e têm muito para trocar. 

Recomendo CineMaterna entusiasticamente!
Foto: Simone Novato

terça-feira, 2 de abril de 2013

Cocô do bebê pode trazer mensagem importante sobre sua saúde

As fezes comunicam sobre como está o funcionamento do organismo

por Amanda Dias Almeida

Cuidar de um bebê exige atenção a todos os detalhes. E o cocô pode ser um dos mais importantes. “Através da eliminação seu filho comunica sobre como está o funcionamento do organismo,” afirma o pediatra Luigi Massaro. É o caso das intolerâncias alimentares, que, geralmente, se manifestam nesse momento. “Fezes muito líquidas ou de coloração diferente do amarelo-esverdeado sinalizam algum desequilíbrio. Esbranquiçadas podem ser sinal de problema no fígado ou de alguma doença hereditária. Já a presença de sangue ou pus é um alerta e é preciso consultar um profissional”, explica Massaro.

As fezes estão diretamente relacionadas com a ingestão de alimentos. Por isso, bebês que mamam exclusivamente no peito tendem a seguir um determinado padrão de eliminação que é diferente dos que tomam algum tipo de complemento ou que já consomem comida sólida. “O leite materno é totalmente aproveitado pelo organismo do bebê, o que explica alguns deles ficarem até 6 dias sem fazer cocô sem sofrerem de constipação”, explica o médico.

Até o segundo mês, aproximadamente, é normal o bebê evacuar de três a oito vezes por dia. A cor varia de amarelo a esverdeado, é pastoso ou pode apresentar grumos. A partir de um mês e meio até três se forma a ampola retal e a eliminação pode demorar um pouquinho mais para acontecer. Mas, só depois do sexto mês é que as fezes começam a endurecer, mas isso não significa cocô duro, ressequido ou em bolinhas. Nesses casos, pode significar falta de ingestão de líquidos. “Não fazer cocô por até 3 dias é totalmente normal, depois disso requer observação”, orienta o pediatra.

Segundo o médico, é preciso prestar atenção no conjunto de sinais que o bebê está dando antes de se preocupar. A obstrução abdominal vem acompanhada de barriga inchada e falta de apetite. “Se o bebê está mamando é porque está absorvendo os nutrientes e, naturalmente, sente fome. Se não está eliminando um dia ou outro é porque não está sobrando nada para ser eliminado”, esclarece o especialista. A soltura de gases também é um indicativo de que tudo está bem.