terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crianças nas costas - Texto bonito e sensível sobre as crianças peruanas

Por Diana Lichtenstein Corso
 
 
A psicanalista Diana Lichtenstein Corso, colunista do jornal Zero Hora, viajou recentemente conosco para o Perú e escreveu hoje na sua coluna de ZH, este bonito e sensível texto sobre as crianças peruanas. 

O Viajando com arte transcreve aqui a coluna para aqueles que por alguma razão não leram no jornal:

Com o filho nas costas

Tenho uma espécie de brincadeira comigo mesma, um desafio pessoal, que consiste em adivinhar a idade dos bebês. Deixei a prática com crianças com certa tristeza e, assim, fico testando se esqueci o que sabia a respeito delas. Recentemente errei feio: em viajem ao Peru, encontrei um garotinho simpático e participativo, ao qual atribui cinco meses, quando tinha apenas dois.

Até os três meses, um bebê luta para controlar o movimento da cabeça, de forma que possa focar seus olhos no ponto desejado. A direção do olhar, que lhe permite fundamentais trocas e aquisições, é uma longa conquista. Àqueles olhos negros não havia detalhe que escapasse. Essa precoce destreza motora, que me confundiu, provavelmente deve-se ao fato de que muitos bebês daquele país costumam acompanhar as atividades da mãe enrolados num pano amarrado às suas costas. Como marsupiais, eles precisam esforço para brotar das entranhas de tecido que os aconchegam, mas também exigem muito de sua musculatura.

Esse foi apenas um dos vários encontros que tive com crianças, principalmente em idade pré-escolar, em Cuzco. Elas estavam com os pais nas lojas, banquinhas de rua, restaurantes, e não se resignavam a ficar mudas, fingindo de mobília. Em geral, contribuíam com sua alegria para o sucesso das vendas. Conversavam, se apresentavam aos turistas, brincavam de esconde-esconde, gargalhavam muito. Quando se agitavam um pouco mais, um olhar severo, uma palavra da mãe ou do pai, bastavam para limitar a exuberância, que sinceramente não incomodava.

Para nós, país de curta memória, o contato com a história pré-colombiana é transformadora, descobri quanto o velho mundo também é deste lado do oceano, meu senso de passado se alargou. Voltei maravilhada, mas a lembrança desses pequenos descendentes de Incas, Mochicas, Nazcas e Paracas disputa espaço entre a beleza das imponentes ruínas e da natureza da região.

Aprendi que para os Incas, os antepassados mais recentes dessas crianças, o ócio, a preguiça, figura entre os pecados capitais. É, aliás, o pior deles. Não me pareceu estranha essa informação, pois trata-se de um povo que surpreende pelo bom humor com que executa suas tarefas. Trabalhar os orgulha, não é sinônimo de servidão ou alienação.

Por isso, a presença de famílias que se harmonizavam com o ambiente de trabalho, deixou-me pensativa. Revela uma forma peculiar de encarar a questão da transmissão de valores e do espaço das crianças em uma cultura. Esses pais incutem respeito em seus filhos pelo que fazem. A educação das crianças espelha o sistema de valores dos pais: o que pensam, diferente do que dizem. Os filhos sempre sabem a verdade.

Em nossa cultura, diferenciamos muito bem o território dos adultos e crianças. Para nós, o local de trabalho é impróprio para os filhos, onde atrapalhariam e ficariam descuidados. Essas crianças peruanas que conheci, vivem seu começo longe da nossa dita sabedoria psicológica e pedagógica. O espaço é partilhado, mas os limites e exigências são bem claros. Precisam desenvolver a envergadura física e moral, modos e músculos, para viabilizar o convívio. O que provam ter, por vezes bem mais do que as nossas. Isso dá o que pensar em termos de clichês e invenções educativas, para as quais vivemos em busca de fórmulas, critérios, conselhos. Como os valores e as balizas são internos, refletem as convicções de uma família, de uma cultura, nossos esforços práticos nem sempre são recompensados. A infância espelha a ética de um povo, o que fazem, diferente do que dizem. As crianças revelam nossas verdades.

Fonte:
http://wp.clicrbs.com.br/viajandocomarte/2012/05/23/criancas-nas-costas-texto-bonito-e-sensivel-sobre-as-criancas-peruanas-de-diana-lichtenstein-corso/



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pediatria com o Cacá e Slingada na Casita - Santo André - SP

Quinta-feira 27/09, das 11h às 20h30.
Em Santo André - SP
 
Informações:
 
(11) 3672-6561 / 2548-6383
 
Clique na imagem para ampliar
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A resposta das crianças à separação

por Soluções para noites sem choro

Em 1950, as Nações Unidas encarregaram John Bowlby de fazer um estudo sobre as necessidades das crianças órfãs. O resultado do seu trabalho deu origem a um livro (16) que analisa o efeito da separação nas crianças, sobretudo a partir da observação de crianças internadas em hospitais e das crianças de Londres que, durante a guerra, foram separadas dos seus pais e evacuadas para o campo a fim de escaparem dos bombardeamentos.
Entre os efeitos que a separação tem a curto prazo, é frequente que as crianças apresentem algumas das seguintes reações:
  • Quando a mãe retorna, a criança fica brava com ela ou recusa-se a cumprimentá-la, como se não a visse.
  • A criança mostra-se muito exigente com a mãe ou com as pessoas que cuidam dela: pede atenção a todo o momento, quer que tudo seja feito à sua maneira, tem ataques de ciúmes e grandes birras.
  • Relaciona-se com qualquer adulto que esteja perto, de forma superficial, mas aparentemente alegre.
  • Apatia, perda de interesse pelas coisas, movimentos rítmicos (como se embalando a si próprio), por vezes dando pancadas com a cabeça.
Em alguns casos, esses movimentos rítmicos e pancadas com a cabeça podem ser normais. Como explica o dr. Ferber (grande defensor de ensinar as crianças a dormir deixando-as chorar um minuto, três ou quatro...No resto do mundo é chamado o “método Ferber” ao que na Espanha se chama “método Estivill” e no Brasil “método do choro”):
 
Muitas crianças entregam-se a algum tipo de comportamento rítmico e repetitivo na hora de irem para a cama, quando acordam durante a noite ou de manhã. Colocam-se em posição de engatinhar, abanam a cabeça de um lado para o outro, batem com a cabeça contra a cabeceira da cama ou deixam-na cair repetidamente sobre a almofada ou o colchão. À noite, este comportamento pode repetir-se até adormecerem e, de manhã, pode persistir até que estejam completamente despertos. [...] Quando os comportamentos rítmicos começam antes dos dezoito meses e desaparecem na sua maioria antes dos três ou quatro anos não são normalmente sintoma de problemas emocionais. Na maior parte dos casos, as crianças com estes hábitos são felizes e saudáveis e, nas famílias não se adivinha qualquer problema ou tensão.
 
Chama a atenção a ambiguidade no momento de decidir o que é ou não um comportamento normal.
- A minha filha acorda no meio da noite...
- Claro que chora e chama os pais. O que tem sua filha é insônia infantil devido aos maus hábitos aprendidos; é uma alteração do sono que, se não for curada a tempo, pode provocar graves sequelas psicológicas.
- Não, o senhor não me compreendeu bem, doutor. A minha filha acorda, mas não chora nem chama ninguém, apenas bate com a cabeça na parede.
- Ah! Bom! Devia ter começado por aí. Se ela só bate a cabeça, é absolutamente normal e não há porque preocupar-se.
Voltando a Bowlby, recorda-nos que algumas das mais graves alterações observadas em crianças separadas das mães, em orfanatos e hospitais, dão a falsa sensação de que tudo está correndo bem:
 
É necessário fazer uma advertência especial sobre as crianças que respondem com apatia ou com um comportamento alegre e indiscriminadamente amistoso, uma vez que as pessoas que ignoram os princípios da saúde mental podem ser enganadas. Estas crianças podem ser tranquilas, obedientes, fáceis de levar, bem-educadas, arrumadas e estar fisicamente saudáveis, muitas delas, inclusive, parecem estar felizes. Enquanto permanecerem na instituição, não existe motivo aparente de preocupação, mas quando a deixam, quebram e é evidente que a sua adaptação era superficial e não tinha como base um verdadeiro crescimento da personalidade.
 
Poucas crianças, felizmente, permanecem numa instituição (hospital ou orfanato). No entanto, muitas se vêem separadas das mães repetidamente, durante algumas horas, todos os dias. O efeito não é tão devastador, claro, mas existem semelhanças. Há crianças que parecem “tranqüilas, obedientes e mesmo felizes” nos berçários e escolinhas, mas que começam a chorar desesperadamente quando saem dele. Ou que parecem adaptar-se muito bem a dormir sozinhas todas as noites, mas que “quebram” quando se abre uma brecha no seu isolamento.
 
Bastará que uma só vez que vocês façam o que a criança pedir – água, uma canção, dar-lhe a mão um pouquinho, um abraço...- para que vocês percam o jogo: tudo aquilo que haviam conseguido [ensinado a criança a dormir sozinha] vai ser perdido.
 
As consequências mais graves produzem-se depois de separações longas, de vários dias. Mas também as separações breves têm o seu efeito: inclusive o método usado pelos psicólogos para comprovar se a relação entre mãe e filho é normal é o “teste da situação desconhecida”, na qual se observa como reage uma criança de um ano quando a mãe se ausenta do cômodo e volta três minutos depois.
Os efeitos da separação são cada vez menos graves à medida que a idade da criança aumenta como nos recorda Bowlby.
 
Embora existam razões para acreditar que todas as crianças menores de três anos, e muitas das que têm entre três e cinco anos, sofrem com a privação, no caso das crianças com idades entre os cinco e os oito anos são apenas uma minoria, e surge a pergunta: por que razão umas são afetadas e outras não?
 
Pois bem, esse fator que faz com que algumas crianças suportem a separação melhor do que outras é, segundo Bowlby, a relação prévia com a mãe. Uma relação que tem efeitos aparentemente contrários segundo a idade.
Nas menores de três anos, quanto melhor era a relação com a mãe, mais se alterava o comportamento da criança depois da separação. As crianças que já eram maltratadas ou ignoradas em sua casa, pouco choravam ao serem levadas para um orfanato ou hospital. Mas isso não significa que tolerem melhor a perda, mas que já não têm quase nada a perder. Não tem a reação normal de uma criança da sua idade.
Pelo contrário, em crianças com idades compreendidas entre os cinco e os oito anos de idade, aquelas que tiveram uma relação mais sólida com a mãe, as que recebiam mais carinho e passavam mais tempo no colo são as que melhor suportam a separação. O estreito contato nos primeiros anos deu-lhes a força necessária para suportar as adversidades, o que atualmente os psicólogos conhecem por resiliência. Charles Dickens explicou-o muito bem há já século e meio:
 
Viu os que tinham sido cuidados com delicadeza e criados com ternura manterem-se alegres perante as privações e superar os sofrimentos que teriam desfeito muitos de uma madeira mais grosseira, porque tinham no seu íntimo os fundamentos da felicidade, da satisfação e da paz.
Cartas Póstumas do Clube Pickwick
 
Bowlby afirma que a relação, o vínculo afetivo que se estabelece entre uma mãe e filho, é o modelo para todas as relações afetivas que o indivíduo estabelecerá durante o resto da vida. A relação com a mãe estende-se depois ao pai, aos irmãos e a outros familiares: aos amigos, colegas e professores, ao próprio casal e aos filhos. Chegou a esta conclusão partindo, não como muitos outros psiquiatras, do estudo do adulto e das suas tênues recordações de infância, mas da observação das crianças e das crias de outras espécies.
Muitos comportamentos que, nas crianças, se atribuem alegremente a “manha”, “teatro” ou “má-criação” são aceitos como legítimos quando levados a cabo por um adulto. Devemos deixar claro, no entanto, que estas analogias são puramente didáticas: o que sabemos sobre o comportamento das crianças não foi averiguado a partir da observação de adultos e de deduções, mas da observação direta de crianças.
Imagine, que num domingo, que você e seu marido se encontram em casa. Mexendo cada um nas suas coisas, cruzam-se uma dezena de vezes. Vocês param um diante do outro, se cumprimentam, se abraçam? Claro que não. A maior parte das vezes cruzam-se sem se olhar, sem dizer uma palavra.
Agora, o seu marido sai para comprar a sobremesa. Não diz “tchau” quando sai nem “cheguei” quando entra? Como passou quinze minutos fora de casa, é possível que você nem mesmo vá a porta para recebê-lo, continuando com o que está fazendo e dizendo “oi” de longe.
No dia seguinte, o seu marido volta do trabalho. Esteve nove horas fora de casa. Você não vai até a porta esperá-lo? Não lhe dá um beijo (e espera correspondência)? Não é um pouco mais elaborada no seu ritual, quando o saúda? Algo como:
- Oi, amor.
- Oi.
- Como foi o seu dia?
- Bem.
Neste momento, o marido comum se escapa e vai ver tv. Durante os primeiros meses de casados, você esperava por uma resposta mais longa. Mas, por esta altura, já entendeu que os homens são assim mesmo e que é preciso aceita-lo.
Imagine agora que o seu marido vai a Nova York por uma semana em viagem de negócios. Na volta, desenvolve-se a cena habitual:
- Oi, amor.
- Oi.
- Foi tudo bem?
- Sim.
E vai ver televisão... Como você reage? Vai permitir que isso aconteça?
- Como assim? Conta alguma coisa! O que você fez? O que viu? O que comeu? Subiu o Empire State? O que comprou para mim? Será possível passar uma semana em Nova York e não ter nada para contar? Dá um beijo! Você não me ama mais?
A separação de duas pessoas unidas por um vínculo afetivo produz inquietação em ambas. Para voltarem a tranquilizar-se necessitam de contato físico e verbal especial, contato que será tanto maior e mais completo quanto maior tiver sido a separação. Se uma das pessoas nega esse contato tranquilizador, a outra poderá responder com maior inquietação e às vezes com hostilidade.
No primeiro exemplo, cruzar-se no corredor quando estão ambos em casa não requer um contato especial, porque nem sequer existiu uma separação Estavam os dois em casa e, por isso, estavam “juntos”.
Contudo, entre um bebê e os pais, as coisas mudam. Ir para outro quarto representa uma separação para a criança, porque não sabe para onde a mãe foi. Demorará alguns anos para compreender que a mãe está no quarto ao lado e que, por isso, não foi embora. E a escala é diferente: uns minutos representam, para o seu filho, várias horas, umas horas parecem-lhe dias ou meses e uns metros parecem quilômetros.
Compreende agora por que razão o seu filho começa a chorar quando você sai do quarto, porque razão quando você vai trabalhar ou quando esteve no hospital ele lhe pede mais abraços e mais atenção, por que razão, quando sai da escolinha, insiste em contar-lhe tudo o que fez ou pede que você lhe compre doces?
Às vezes as crianças pedem guloseimas e brinquedos para “chamar a atenção”. Se, à saída do colégio, os pais não mostram interesse suficiente pelas suas explicações, se ficam impacientes com suas histórias, se o corrigem continuamente em vez de escutarem pacientemente, se lhe dão poucos beijos e abraços, se se recusam levá-lo ao colo ou mesmo se o cumprimentam com hostilidade “que mãos mais sujas! Olha o que você fez com a calça nova!”, a criança provavelmente vai pedir tudo o que vir na primeira vitrine que encontre. Ela está pedindo uma prova de amor. Uma prova de amor falsa, porque o amor verdadeiro demonstra-se com respeito, contato e compreensão e não com objetos e guloseimas.
Para os pais, este carinho falso que consiste na acumulação de bens materiais pode ser muito atraente. Tempo é dinheiro, mas existem apenas vinte e quatro horas por dia. Se tiver dinheiro suficiente do outro, pode ser mais barato comprar uma boneca que fala para a sua filha do que brincar com ela durante uma hora por dia com uma boneca normal. E assim, gradualmente, vamos “educando mal” a criança: isto é ensinando-lhe a dar mais importância às coisas materiais do que aos seres humanos. Não é a simples acumulação de riqueza que produz a má educação: as crianças ricas têm sempre mais coisas do que as pobres e, contudo há pobres mal-educados e ricos que não o são. “Educar mal” significa “criar mal”, isto é, com pouco carinho, poucos abraços, pouco respeito, poucos mimos. É impossível educar mal uma criança por lhe dar muita atenção, muito colo, consolá-la quando chora muito ou brincar muito com ela.
Dizíamos que, no domingo, quando se cruzam no corredor, não necessitam se cumprimentar porque não houve separação. Mas, se um casal passa um domingo inteiro sem dirigir a palavra um ao outro, sem dar um beijo ou um abraço, não pensaria o leitor que estão à beira do divórcio? Mesmo sem se separarem, duas pessoas unidas por um vínculo afetivo necessitam fazer algo juntas de vez em quando. Se você se esquecer, o seu filho irá recordá-lo.
Bésame mucho - Ed. Pergaminho - Carlos González
 
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Curvas do Crescimento

por Dr Carlos Gonzáles : “os que estão com muito baixo peso”
 
Em alguns casos, o problema não começa pelas mamadas "muito curtas", mas pelo peso "muito baixo". No mundo há pessoas de todos os tamanhos, e qualquer manhã, quando vamos comprar pão, cruzamos com pessoas que pesam 50 kg e outras que pesam 100 kg. Você realmente acha que essas pessoas pesavam o mesmo quando tinham 3 meses? Por que é tão difícil aceitar as diferenças no peso dos filhos?

Tenho um bebê de 3 meses que é amamentada. Até agora, ela vinha ganhando peso bem, 200 ou 250 g por semana. Duas semanas atrás, eu a levei ao pediatra e quando ele a pesou só tinha engordado 80 g. Ela nasceu com 3200 g e agora está com 5820 g. A pediatra recomendou uma "ajuda", mas quando eu dou a mamadeira, ela recusa. Também comprei outros bicos, porque ela não aceita a chupeta, ela continua não aceitando, começa a chorar e passa até quatro ou cinco horas sem mamar no peito; tentei colocar no leite um pouco de papinha e dar com a colher, mas ela também não quer. Ela só quer saber de mamar. Mas eu não posso continuar assim, estou preocupada com saúde dela, pois não ganha quase peso e a pediatra diz que ela está abaixo da curva.
 
Abaixo de que curva? De acordo com os gráficos norte-americanos de desenvolvimento, o peso dessa menina está acima da média. Ela ganhou 2620 g em 3 meses, mais de 850 g por mês. A única medida que não está bem é a que mede a paciência da mãe. Quantas horas mais de angústia, quantas idas à farmácia para comprar novas mamadeiras e novos leites, apenas porque alguém interpretou mal um gráfico? Quantas mamadeiras um bebê terá de recusar para mostrar que ele não as quer?

Este exemplo ilustra dois problemas fundamentais: de um lado a interpretação generalizada dos gráficos; de outro, o ritmo de crescimento dos bebês amamentados.

O que é e para que serve um gráfico de peso?

Isto é um gráfico de peso. Totalmente inventado, não tente encaixar as medidas de seu filho nele! Está aqui apenas para explicar o que significam as linhas. Há diferentes gráficos de peso: os americanos (que são recomendados pela OMS para todo o mundo) e os de outros países que decidiram ter gráficos próprios para não ficarem para trás: franceses, ingleses, espanhóis... De qualquer forma, esses gráficos não são iguais e se um pediatra ou uma enfermeira nos lê poderia passar divertidas tardes de domingo comparando-os.

GRÁFICO I
Os números da direita são chamados percentis. O percentil 75 significa que de cada 100 crianças saudáveis, 75 estão abaixo daquela curva e 25 estão acima. Em alguns gráficos, os percentis extremos são 95 e 5 e não 97 e 3.

Outros gráficos não usam percentis, mas médias e desvio padrão. Nesses gráficos aparecem, da base ao topo, cinco linhas que correspondem aos números -2, -1, média, +1, +2 do desvio padrão. Nós pediatras falamos com intimidade sobre esses gráficos, como se fossem parte da nossa família. Então, dizemos coisas como "a altura está em menos um, mas o peso em menos dois". A propósito, dezesseis por cento das crianças saudáveis estarão abaixo do "menos 1", enquanto que dois por cento estarão abaixo do "menos dois".
 
Coloquei no nosso gráfico o peso de três bebês fictícios da mesma idade. Adela está com peso totalmente normal, embora apenas seis por cento das meninas nessa idade pesem mais. Ester, apesar de ter 1,5 kg a menos que Adela, também tem peso normal, mas 85 por cento das meninas da sua idade têm peso maior que o dela. Não há como dizer, de nenhuma forma, que Ester tem "baixo peso" ou com "a curva ruim"". É um erro comum querer que todas as crianças estejam acima da média. Metade das crianças, por definição, estará abaixo do percentil 50.

E Laura? Ela está abaixo da última curva e muitas vezes isso se interpreta com "está com baixo peso". Mas atenção: a última linha é a do percentil 3; 3% das crianças saudáveis está abaixo. Essa linha não é uma fronteira que separa as crianças saudáveis das crianças doentes, mas um sinal que diz ao pediatra: "Cuidado, olhe bem a Laura porque provavelmente ela não tem nada, mas pode ser que esteja doente" Como o pediatra distinguirá esses 3% de crianças saudáveis que estão abaixo da linha dos que estão com pouco peso por causa de uma doença? Bem, para isso ele estudou medicina.

Eu tenho insistido muito que vinte e cinco por cento das crianças saudáveis estão abaixo do percentil 25. Porque o gráfico foi feito pesando muitas centenas ou milhares de crianças saudáveis.

Naturalmente, se um bebê nasce prematuro, com síndrome de Down, com alguma cardiopatia grave, ou foi internado durante semanas por causa de uma tremenda diarreia, seu peso já não se usa para calcular a média dos gráficos de peso normal Pela mesma razão, se o seu bebê tem algum desses problemas ou outros similares, seu peso provavelmente não irá se encaixar nesses gráficos. O fato de uma criança com doença crônica (ou que recentemente teve alguma doença aguda) estar com "baixo peso" não é por não comer, mas porque esteve doente. Forçá-lo a comer não vai ajudar a curá-lo; vai apenas fazê-lo sofrer e vomitar.

Agora, adicionamos ao gráfico imaginário mais dois pesos de meninas imaginárias. No topo está a Tâmara; seu peso, como você pode ver, está entre os percentis 90 e 97. Muitos irão dizer que ela está "seguindo a curva".
 
A linha mais abaixo mostra o peso de Marta. Vemos que num determinado momento ela ultrapassou o percentil 50, mas depois ela se aproximou do percentil 10. O que houve com Marta? Provavelmente nada. Claro que se a curva se modificar muito rápida ou abruptamente (de forma muito íngreme), o pediatra deveria olhá-la com carinho para ter certeza de que não há nenhum problema. Mas provavelmente não irá encontrar nada. Simplesmente, porque gráficos de peso não são caminhos para serem seguidos, mas representações matemáticas de um complexo sistema de estatísticas. As curvas e os percentis correspondentes não representam o ganho de peso de uma criança em particular e o ganho de peso de uma criança não tem que seguir nenhuma dessas linhas. O próximo gráfico ilustrará melhor.

GRÁFICO II

Com o propósito de colocar nossa marquinha na história da pediatria, ao invés de usar um gráfico americano ou espanhol, decidi usar um gráfico próprio (o primeiro gráfico virtual, uma vez que foram usados somente pesos de bebês fictícios). Começamos pesando duas meninas durante o primeiro ano e obtivemos as duas linhas grossas.

Calculamos a média dessas duas meninas e obtivemos a linha mais fina que está no meio. Uma dessas meninas começou acima da média e depois passou a ficar abaixo, a outra começou abaixo e depois subiu. Nenhuma delas seguiu a média. Deveríamos dizer que essas meninas têm problemas nutricionais por não terem "seguido a curva"? Claro que não. A média é que não segue a "curva" dessas meninas.

Claro que gráficos de peso não são desenvolvidos usando apenas duas meninas, mas centenas. Pode imaginar como as coisas podem se complicar?

O crescimento de crianças de peito

O ganho de peso de Marta, que vimos acima, é bem típico de bebês que mamam no peito. Os gráficos de peso mais comuns foram desenvolvidos há alguns anos, quando muitos bebês tomavam mamadeira, e os que mamavam no peito o faziam só por umas semanas. Atualmente, mais e mais bebês são amamentados durante meses e eles não seguem os antigos gráficos. Vários estudos (1,2) feitos nos EUA, Canadá e Europa mostram que bebês amamentados geralmente ganham peso mais rápido no primeiro mês do que mostram os gráficos, mas depois eles começam a perder velocidade e vão baixando de percentil. Por volta de seis meses eles perdem a liderança que obtiveram com o ganho de peso no primeiro ano, e mantêm até 1 ano um peso "baixo" de acordo com os gráficos antigos. Enquanto estou escrevendo esse livro, a OMS e o UNICEF estão preparando novos gráficos baseados em bebês amamentados, que logo substituirão aos antigos (eles devem estar prontos em 2004, embora já estejam atrasadas há anos). Não se trata de fazer gráficos para bebê de peito e outros diferentes para crianças que tomam mamadeira; os mesmos gráficos serão usados para todos (3). Enquanto isso, muitas mães levarão grandes sustos, porque dirão quando seu bebê tiver dois ou três meses que ele está "caindo" de peso, ou aos oito ou nove meses que seu filho está com "baixo peso" Isso não é verdade, seu bebê está bem.

Por que o crescimento de um bebê amamentado é tão diferente de um que toma mamadeira? Não temos muita certeza, mas em todo caso, não é por falta de alimento. Durante o primeiro mês, quando só tomam leite, bebês amamentados pesam o mesmo ou mais. Entre seis e doze meses, quando tomam papinhas além do leite, bebês amamentados pesam um pouco menos. Se fosse verdade a frase "o peito já não sustenta" (o que é uma grande bobagem uma vez que o leite materno alimenta mais que a mamadeira e mais que as papinhas), a criança ficaria com fome e comeria mais papinha e consequentemente ganharia o mesmo peso do bebê de mamadeira. A diferença é mais profunda; por alguma razão, leites artificiais levam a um padrão de crescimento que não bate com o padrão de crescimento do bebê amamentado.

Na primeira edição deste livro, eu escrevi: "Nós não sabemos quais consequências pode ter esse crescimento excessivo". Agora já sabemos. Muitos estudos (4,5) demonstraram que bebês que foram amamentados por menos de seis meses têm taxas mais altas de obesidade e têm mais chances de apresentar sobrepeso e obesidade entre os 4 e os 6 anos.

Nem todas as crianças crescem no mesmo ritmo
 
Tenho uma filha de 8 meses e nos últimos 4 meses ela não ganhou peso, seu peso durante quatro meses é de 7.450 g e a altura aumentou pouco a pouco até os 71 cm que ela tem agora. O pediatra dela me disse que se ela não ganhar peso esse mês, vai solicitar exames de sangue, para ver se ela está com algum problema; se não é porque é inapetente e ponto.
Comer, come muito pouco. Ela recusa a colher e quando eu a forcei a comer com a colher, ela vomitou tudo. Continuo dando tudo com mamadeira: frutas, papinhas e cereais.


Certamente não é "normal" (no sentido de "comum") que um bebê não ganhe nada de peso entre 4 e 8 meses. Para descobrir se além de pouco comum é também patológico, é preciso considerar outros dados, entre eles os exames que prudentemente pediu o pediatra para ter certeza que o bebê não está doente. Mas se nada for detectado, é melhor esperar pacientemente "é inapetente e ponto". Especialmente nesse caso em que também não é comum pesar tanto aos quatro meses; ela estava praticamente no percentil 95. A altura aos oito é grande, mais que a média.

Todos os exames foram normais e aos 13 meses essa menina estava pesando 8 kg e continuava sem querer comer. Parece que ao invés de manter um lento e constante ganho de peso, ela ganhou todo seu peso nos primeiros 4 meses e depois parou de ganhar.

Existe um ritmo de crescimento especial que geralmente leva os pais à loucura, chama-se "atraso constitucional do crescimento ". É apenas uma variação do normal, não uma doença. São crianças que não seguem nenhum gráfico; elas têm a sua própria curva de crescimento. Elas nascem com peso normal e crescer normalmente durante uns meses. Mas em algum momento entre o terceiro e o sexto mês elas estacionam e começam a crescer lentamente, tanto em peso como em altura. Mas, isso sim, seu peso é adequado a sua altura. O pediatra pode pedir exames, mas tudo estará normal. Eles ficam no limite ou fora dos gráficos por dois anos, mas por volta dos dois ou três anos eles começarão a crescer mais rápido até atingir uma altura final completamente normal e são adultos de estatura mediana. Isso é uma característica hereditária e pode ser muito tranquilizante quando as avós finalmente admitem que o pai ou o tio "também era muito miúdo no início e o pediatra vivia dando vitaminas", mas no final de tudo ele cresceu. Veja um típico exemplo:

Minha filha tem dezoito meses e, felizmente, ainda mama no peito apesar dos comentários negativos de 99% das pessoas. O problema é que desde os 4 meses, quando eu voltei a trabalhar, ela não come bem. Ela começou a perder peso e agora está com 73,2 cm e 8.690 g. Ela fez exames e está tudo normal.


 
Aos dezoito meses, de acordo com os gráficos americanos antigos, uma meninas no percentil 5 deveria ter 8.920g e 76 cm. Entretanto, para uma menina de 73cm, o peso está acima do percentil 25. Ela foi ao endocrinologista e o hormônio do crescimento está normal. Então, tudo que se tem a fazer é esperar alguns anos.

Logicamente, uma criança que cresce tão devagar come ainda menos que as outras crianças.


(1) Dewey, K. G. et al. Growth of breast-fed infants deviates from current reference data: a pooled analysis of US, Canadian, and European data sets.Pediatrics 1995; 96: 495-503.
(2) WHO Working Group on Infant Growth. An Evaluation of Infant Growth. Document WHO/NUT/94.8, OMS, Geneva, 1994.
(3) Dewey, K. G. Growth patterns os breastfed infants and the current status of growth charts for infants. J Hum Lact 1998; 14: 89-92.
(4) Von Kries, R. et al. Breast feeding and obesity: cross sectional study. BMJ 1999; 319: 147-50.
(5) Grummer-Strawn, L. M. and Mei, Z. Does breastfeeding protect against pediatric overweight? Analysis of longitudinal data from the Centers for Disease Control and Prevetion Pediatric Nutrition Surveillance System.
Pediatrics 2004; 113: ee81-86.

NOTA DO TRADUTOR: Os novos gráficos da OMS foram lançados em 2007.

Do livro Mi niño no me come de Carlos González

Tradução: Fernanda Hack e Luciana Freitas
Revisão: Luciana Freitas
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Programação Cultural

Aniversário de 10 anos do Grupo Babado de Chita
Sábado 29/09, das 16h às 22h.
 
Confira:
 
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Slings: Como usar?

O uso do sling é prático, mas requer uma série de cuidados para que seja feito de modo correto.
Aqui, damos algumas dicas de como usar cada modelo.
Apareça em uma
slingadapara saber mais!

- Para sling de argolas, no início tente colocar o bebê do lado oposto da argola, apenas por uma questão de segurança, depois que você tiver o domínio do sling, você pode colocar o bebê do lado que você achar melhor.
- Mantenha a linha de fundo do sling, acima da sua cintura, no máximo 3 dedos abaixo do umbigo, o bebê fica acima e não lá em baixo;
- Se você está insegura, treine primeiro com um travesseiro, boneca ou bicho de pelúcia;
- Experimente o sling com ambos (você e o bebê) sem fome, sem sede e sem sono. Se você ficar aflita, ele também ficará;
- De uma volta, o sling é movimento;
- Comece aos poucos até você se sentir segura. Segurança é a alma do sling.
- Posso dizer que são raríssimos os bebês que não gostam de carregadores, já vi muitas mães com medo e inseguras, e isso é passado para o bebê.
- Você pode usar o sling em váriadas posições, da mesma forma que carrega no colo. O sling e um pano que abraçará vocês dando sustentação e conforto. Se é um bebê que gosta de ficar deitada, ela vai deitada, se ela gosta de ficar em pé, olhando para você ou para o mundo, coloque-a assim dentro do sling.
- Alguns bebês não gostam de ficar deitados, e não é por causa do sling, eles só preferem ficar com a cabeça p/ fora do sling, então tente colocá-lo em pé virado p/ vc ou p/ o mundo. Alguns desses sintomas? Venha na slingada.

Benefícios

- Facilitador do colo;
- Imita a posição natural dos braços de quem carrega.
- Respeita a espinha dorsal do bebê, não há ponto de força/esforço;
- Permite ao bebê manter as perninhas juntas, numa fase que as articulações ainda estão frágeis, se formando;
- Previne cólicas e regurgitamentos, favorece a digestão, indicado tb para casos de refluxos, pois o bebê fica mais inclinado;
- Você pode amamentar o bebê dentro do sling, e discreto e prático;
- O Bebê pode dormir dentro do sling;
- Estimula o sistema nervoso do bebê, diminui o choro e a inquietação em mais de 40% (estudo comprovado), acalma e relaxa;
- Aumenta a auto estima do bebê, pois este recebe mais carinho e atenção do que estando no carinho ou bebê-conforto;
- Dá mais segurança à mãe/pai, pois este compreende melhor e mais rápido suas necessidades; percebe-se logo que algo pode não estar certo, diferente e quando o bebê está no carrinho e tem que gritar para chamar nossa atenção sobre algo diferente;
- Torna a comunicação bebê e adulto bem mais fácil;
- Favorece todos os aspectos psicomotores.
 
Bebê Seguro - Cuidados
1- Verifique sempre suas argolas e a costura de fixação destas.
2- Não se debruce em varandas ou muros com seu bebê dentro do sling, lugares altos e sem proteção em geral.
3- Algodão é uma fibra natural e tb pode pegar fogo, então fique loge dele com seu bebê.
4 - Na hora de lavar, cuidado com os alvejantes, podem manchar e danificar a fibra, tornando a estrutura do tecido frágil.
5 - Certifique sempre de que há pano sufuciente em torno do bebê, é a base de sustentação do sling.
6 - Na dúvida, não expermente posições sozinha, peça ajuda a outra pessoa.
7- A usar o sling, lembre-se que você como um todo está maior, cuidado com esbarrões e tropeços. Muitas vezes o sling à sua frente diminui a sua visibilidade, cuidado ao andar em ambientes com diníveis. E vamos slingar!!!!
* Grupo Carregadores de Pano (consultoria e vendas) com a Rosangela Alves, do Sampa Sling. 
   Todas as quintas, das 13h30 às 15h30, no Espaço Nascente.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A CHUPETA

O que toda mãe (e pai) deveria saber antes de oferecer uma chupeta para o seu bebê.  (ou Considerações sobre a chupeta baseadas em evidências)

Por Andreia Stankiewicz

A Andreia Stankiewicz, odontologista e Melania Amorim e Karina Falsarella estão escrevendo um texto sobre amamentação e saúde dos dentes do lactente, acaba de escrever um novo artigo que é, na verdade, um serviço de utilidade pública.

Confira alguns trechos desse excelente artigo, baseado em evidências científicas, que trata de dúvidas muito recorrentes, como a interferência negativa sobre a amamentação, a alteração do tônus muscular da musculatura bucal, possíveis deformações esqueléticas faciais, a inexistência de bicos comerciais que sejam comparáveis ao bico do peito, a falácia de que chupeta é menos prejudicial que o dedo, a ligação entre a chupeta e a síndrome do respirador bucal, entre outros tópicos tão importantes quanto.
  
A oferta da chupeta se difundiu amplamente na sociedade contemporânea. Trouxe consigo conveniência e comodidade, “simplificando” a tarefa dos adultos em acalmar o bebê. Muitos não sabem ao certo se devem ou não oferecê-la. Desinformação, falta de tempo, busca por facilidades imediatas, desconexão com os próprios instintos da espécie e tantos outros motivos popularizaram o seu uso e fizeram com que formas naturais e gentis de lidar com o choro e as demandas do bebê fossem deixadas de lado. Assim, a necessidade básica de sucção no peito não é plenamente suprida, muito menos as necessidades psico-afetivas do bebê, como um ser humano complexo em formação. O motivo do choro que está sendo silenciado fica sem resposta. A chupeta acaba sendo uma solução mágica e instantânea, que se arrasta pela infância afora e, disfarçada de outras formas, chega até a vida adulta. Por isso, não se iluda! A chupeta não é inocente como parece. Efeitos colaterais advindos do seu uso existem, e aumentam em quantidade e gravidade ao longo do desenvolvimento infantil.

Interfere negativamente sobre a amamentação.

Estudos mostram que crianças que desmamam precocemente usam chupeta com maior freqüência do que aquelas que são amamentadas por um período maior. A confusão de bicos descrita na literatura acontece porque a musculatura é trabalhada de forma completamente diferente durante a sucção do peito e da chupeta. A sucção de um bico artificial leva à perda da tonicidade e alteração da postura muscular (dos lábios e língua, principalmente), fazendo com que o bebê não consiga manter corretamente a pega do peito. Além disso, existem evidências de que chupar chupeta diminui a produção de leite, pois o bebê solicita menos o peito, causa ferimentos na mãe devido à pega errada, o que acaba interferindo até mesmo no seu ganho de peso. Não oferecer bicos artificiais e chupetas a crianças amamentadas é um dos Dez passos para o Sucesso do Aleitamento Materno recomendado pela Organização Mundial de Saúde, UNICEF e Ministério da Saúde.

Prejudica a correta maturação funcional do sistema estomatognático.

Atrapalha na fala, mastigação, deglutição e respiração da criança. Podem surgir deficiências de dicção, presença de sibilo/ceceio na fala, voz rouca e/ou anasalada. A mastigação perde sua característica normal bilateral e alternada, tendendo a vertical ou unilateral, afetando diretamente as articulações têmporo-mandibulares e o desenvolvimento das estruturas envolvidas. Desenvolve-se potencialmente uma deglutição atípica, com interposição de língua e participação da musculatura peri-oral. O padrão respiratório se altera de nasal para bucal ou misto. Assim, existe um consenso na literatura científica de que hábitos de sucção não-nutritivos são potencialmente nocivos para a saúde da criança e que, por isso, devem ser desestimulados ou removidos o mais cedo possível no intuito de minimizar os danos.

Altera a postura e tonicidade dos músculos da boca: o lábio superior fica encurtado, o lábio inferior fica flácido e evertido (virado para fora), ocorre a perda do selamento labial passivo (sem esforço), a pele do queixo pode ficar enrugada (refletindo o esforço do músculo mentalis para auxiliar no vedamento labial), as bochechas ficam hiper/hipotonificadas e caídas (de acordo com a forma que a criança adapta a sucção) e a língua perde a tonicidade, ficando numa posição baixa e retruída dentro da cavidade bucal, alterando toda a fisiologia.

Causa deformações esqueléticas na boca e na face: Os ossos da face crescem de forma desarmônica, com alterações e rotações dos planos de crescimento. As arcadas e os ossos nasais sofrem atresias (estreitamento) e desvios (desvio de septo) prejudicando também as funções de deglutição, mastigação, fala e respiração e se tornando um obstáculo mecânico à cura de uma série de patologias (especialmente, as “ites” = rinite, sinusite, amigdalite, bronquite, otite, adenóides hipertróficas, etc...). A mandíbula mantém a posição retruída do nascimento, isto é, o queixo não cresce, prejudicando a estética e a fisiologia.

Provoca maloclusão dentária.

Mordidas abertas, mordidas cruzadas, maloclusão de Classe II, overjet acentuado e outras alterações nos dentes são associadas ao uso de bicos artificiais. Crianças com hábitos de sucção não-nutritiva apresentam 12 vezes mais chance de desenvolver problemas oclusais do que crianças sem hábito. Mais de 70% das crianças que possuem hábitos de sucção não-nutritiva apresentam algum tipo de maloclusão.

Os bicos ortodônticos prejudicam mais no aspecto funcional do que os convencionais:

Não existem evidências que comprovem substancialmente a existência de vantagens reais nos bicos anatômicos ou ortodônticos. Embora sejam potencialmente menos nocivos em relação às alterações dentárias, chupetas ortodônticas mantêm o dorso ainda mais elevado e a ponta da língua ainda mais baixa e mais posteriorizada do que o bico comum. Produzem mais movimentos incorretos com a língua, a deglutição é deflagrada mais tardiamente e existe um maior esforço e pressão negativa formada durante a sucção.

Representa uma das causas da Síndrome do Respirador Bucal:

Quando a criança respira pela boca pode ter o seu desenvolvimento comprometido pelas inúmeras consequências que isso acarreta ao organismo como um todo. O ar inspirado pela boca não sofre o processo de filtragem, aquecimento e umedecimento fisiológicos, deixando o sistema respiratório mais vulnerável a doenças em geral. A respiração bucal ainda acarreta uma gama de alterações físicas (patologias respiratórias, problemas nutricionais e de crescimento, alterações fonoaudiológicas, do sono [ronco, apnéia, pesadelos, terror noturno, enurese noturna/xixi na cama, bruxismo] maloclusão e problemas orto-ortopédicos, posturais, comportamentais e emocionais (problemas de aprendizado, distúrbios de ansiedade, impulsividade, fobias, agitação, cansaço e hiperatividade, baixa auto-estima).

“Chupetar” peito não existe!

O termo “chupetar” deveria se referir exclusivamente à chupeta, onde o bebê realiza uma sucção não-nutritiva simplória. Dizer que o bebê está fazendo o peito de chupeta (“chupetando”), quando na verdade ele está mamando constitui um erro semântico; já que mamar constitui um ato complexo que envolve, não apenas extrair o leite, mas também sugar, estar em contato íntimo com a mãe, e sentir todas as sensações orgânicas e psico-afetivas envolvidas, com suas respectivas repercussões. Como poderia o bebê fazer o peito de chupeta se este tipo de artifício não é natural para ele e não lhe proporciona toda essa riqueza de estímulos? Bicios artificiais, muito pelo contrário, representam um estímulo de sucção patológica. O que sua memória instintiva, seu impulso pela sobrevivência reclama e pede é o peito da mãe, fisiológico, e não a chupeta. Tanto é que a maioria das crianças só aceita a chupeta após muita insistência dos adultos. Argumenta-se que alguns bebês teriam uma necessidade maior de sucção e que, após satisfazerem sua fome, ficariam no peito apenas “chupetando”, sugando, mesmo sem leite. O que acontece é que existem fases do desenvolvimento (saltos e picos de crescimento) onde a demanda aumenta repentinamente e o peito necessita receber mais estímulo para ajustar a produção. Todo bebê esperto sabe muito bem que mamar faz a produção de leite aumentar. Além disso, ele está ao mesmo tempo satisfazendo sua necessidade neural de sucção. Você já deve ter ouvido aquela famosa frase: “a natureza é sábia!”, não é mesmo? Pois é.

Considerações sobre a toxicidade e segurança da chupeta:

Durante o processamento da borracha natural e a criação da sintética, várias substâncias são adicionadas ao látex com o intuito de conferir maior elasticidade. Em contato com a saliva, esses produtos se volatilizam, trazendo riscos à saúde; além da possibilidade de existirem crianças alérgicas ao látex. Como qualquer outro objeto levado à boca, a chupeta pode servir de veículo para infecções diversas (otite, candidíase, cáries, etc). Outros riscos potenciais são o de acidentes, obstrução das vias aéreas e estrangulamento por cordas amarradas na chupeta.

A chupeta e o refluxo gastro-esofágico:

O uso da chupeta foi aventado como método capaz de reduzir o refluxo gastro-esofágico. No entanto, revisão sistemática não encontrou evidência de que ela melhore o tempo total e/ou diminua o número de episódios de refluxo.

A necessidade de sucção do bebê deve ser suprida no peito:

Crianças que nunca mamaram no peito ou que tiveram aleitamento misto antes dos três meses de idade têm aproximadamente sete vezes mais chance de desenvolver hábitos de sucção não-nutritivos do que crianças amamentadas por mais tempo8. Desde a vida intra-uterina o bebê apresenta um impulso neural de sucção. Ele começa satisfazendo esse impulso com o próprio dedo e ao mesmo tempo vai desenvolvendo a função da sucção, crítica para sua sobrevivência após o nascimento durante a amamentação. Se o bebê for amamentado e não houver interferências negativas, o próprio desenvolvimento e amadurecimento neuro-funcional se encarregará de fazer com que a necessidade neural de sucção se esgote espontaneamente em torno do final da fase oral. Portanto, nada substitui o ato de mamar no peito, pelo aporte nutricional e imunológico do leite materno, pela troca de afetividade entre mãe e filho e pelo mecanismo de sucção exclusiva que este propicia para um perfeito desenvolvimento. A amamentação é primária na prevenção em saúde e no funcionamento pleno das potencialidades vitais da criança, refletindo diretamente sobre a sua qualidade de vida. A amamentação deve ser realizada de forma exclusiva até os 6 meses e continuada até os 2 anos de idade ou mais! A decisão de introduzir ou não chupeta é da família. Mas cabe aos profissionais oferecerem aos pais subsídios para que tomem uma decisão consciente e informada a esse respeito.

Autoria: Andréia Stankiewicz, mãe de Luiza, 3 anos e Pedro, 1 ano; cirurgiã-dentista especialista em odontopediatria e ortopedia funcional dos maxilares, membro do Núcleo de Estudos em Ortopedia dos Maxilares e Respiração Bucal (NEOM-RB).

Revisão final: Antonio Fagnani Filho, cirurgião-dentista ortopedista funcional dos maxilares, ortodontista e homeopata, professor de pós-graduação, membro do Núcleo de Estudos em Ortopedia dos Maxilares e Respiração Bucal (NEOM-RB) e da Associação Brasileira Do Sono.

Confira o artigo na íntegra: http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/09/chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

3º Festival Mundial da Paz

3º Festival Mundial da Paz - Parque Ibirapuera - SP
De 06 a 09 de Setembro / 2012
 
Participação do Dr. Carlos Eduardo Corrêa (Cacá) na Tenda Útero, batendo um papo sobre
"Parto humanizado e a relação mãe e bebê".
Dia 08/09 das 17h30 às 21h.
 
Confira a programação
Acesse:
www.facebook.com/IIIfestpaz 
 
 
 
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