quinta-feira, 25 de junho de 2009

Lançada Cartilha das Mães de UTI


Num momento de aflição como esse, que ninguém deseja passar, não se consegue raciocinar e tudo acaba sendo conduzido pelos profissionais da área e pouco se sabe o que pode se fazer para ajudar e para melhor acompanhar ao bebê. Para ajudar a resolver isso, o Instituto Abrace lançou a Cartilha das Mães de UTI. Como profissional da área, não pude faltar ao lançamento e parabenizar o trabalho da equipe.

A Cartilha, desenvolvida através de relatos e depoimentos postados no site da instituição e, com ajuda de profissionais, como o jurista Vinicius de Abreu e o neonatologista Renato Kfouri, resume o cotidiano da UTI neonatal, orienta no caso de uma gestação de risco, da dicas e orientações sobre os cuidados do bebê, sobre como coletar o leite e alimentar o bebê na UTI, e os direitos das mães nessas circunstâncias.

Muito bem detalhada, a mesma serve pra mães atendidas tanto pelo Sistema de Saúde Pública, SUS, como em hospitais privados.

Gostei de ler no site a definição de quem somos da Abrace

"Somos parte de uma mesma história, de lutas, dores, esperanças sem fim e vitórias imensuráveis.

Somos, antes de qualquer coisa, mulheres unidas em torno de um ideal: ajudar outras mulheres e seus filhos dentro das UTI’s.

Aprendemos a lidar com preconceitos, a aceitar perdas, a perceber que quando o mundo desiste, isso não significa que a batalha se perdeu, apenas que é mais um dia difícil.

Somos como tecelãs de histórias que sempre começam da mesma maneira: dentro do nosso ventre."

Cartilha está disponivel gratuitamente no site do Instituto, pode clicar aqui.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pelo direito às Casas de Parto


Regulamentadas em 1999 pelo Ministério da Saúde, as Casas de Parto, ou Centros de Parto Normal, são "unidades de saúde que prestam atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem distócias". Ou seja, são lugares onde, pelo SUS, a mulher com gravidez de baixo risco tem suas vontades respeitadas ao parir.

Quem já se sentiu violentada por um parto normal cheio de intervenções ou por um corte de cesariana desnecessárea entende o que quero dizer com vontades respeitadas. É ser compreendida e amparada como indivíduo - que não funciona como ditam os livros -, é poder encontrar a posição ideal para suportar uma contração, comer ou beber se desejar, ter a companhia que escolher, ouvir música, não ouvir conversas paralelas, não usar roupas, ou se agasalhar como quiser. É ser protagonista do grande evento fisiológico para qual seu corpo se preparou por meses. É fazer seu parto, em vez de esperar que alguém o faça, e mesmo assim ter assistência.

Na maioria das Casas de Parto a assistência é dada por enfermeiras obstetrizes, também chamadas de parteiras profissionais. Elas estão preparadas para lidar com emergências, o que inclui encaminhar para um médico em tempo hábil quando necessário. E - mais importante que na exceção - na regra, estão prontas para ouvir, acalmar, sustentar. "Pra parir a gente precisa de segurança, tranquilidade e carinho e isso tive de uma obstetriz", me disse Mariana Lettis, amiga querida que pariu o Esteban na Casa de Parto de Sapopemba depois de 17 horas de trabalho de parto. Dificilmente um médico tradicional esperaria tanto tempo para um nascimento. O mais provável é que, com desculpa de falta de dilatação, bebê alto, bacia pequena ou cordão enrolado no pescoço saberíamos de outra desnecesárea.

Mas apesar de fantásticas, as Casas de Parto são bastante perseguidas por aqueles que consideram o parto um ato médico. Essa semana, a única Casa do Rio de Janeiro foi arbitrariamente fechada e só reaberta depois de protestos. Telefonei para a Casa de Parto de Sapopemba, a única com atividade constante em São Paulo, e a obstetriz me informou tristemente que foi proibida de dar entrevistas. Proibida? Sim! Proibida de dar entrevistas, de relizar encontros com grupos de gestantes ou promover qualquer atividade que divulgue o trabalho realizado na Casa.

Reproduzo aqui a provocação da parteira profissional Ana Cristina Duarte, por quem tive a sorte de ser assistida no parto: "A verdade seja dita, se as mulheres saudáveis começarem a ter seus bebês com enfermeiras obstetrizes, em clínicas simples e casas de parto, a exemplo do que acontece na maioria dos países de primeiro mundo, o que será dessa gigantesca indústria das cesarianas, dos hospitais cinco estrelas, dos cirurgiões e seus consultórios? Como sustentar esse setor lucrativo da economia?"

Se você também repudia o que está acontecendo nas Casas de Parto, assine o abaixo assinado promovido pela ONG Parto do Princípio e esteja atento.

Texto: Bianca Santana

terça-feira, 9 de junho de 2009

O bebê: um novo mundo que muda o nosso mundo



A impressão que o nascimento causa às mães e aos bebês pode variar bastante conforme as condições em que o parto aconteceu.

O nascimento é um ritual de passagem sagrado. Ao mesmo tempo, garantiu que continuássemos existindo como sociedade e se manteve como uma das vivências humanas mais primitivas e animais.

Como pediatra, tenho a oportunidade rara de acompanhar o nascimento e o início do crescimento e desenvolvimento de muitas crianças. Fico pensando que elas chegam ao mundo com características das suas famílias. Mas também com uma infinidade de possibilidades e diferenças que, quando bem exploradas, poderão possibilitar o surgimento de um novo ser com uma forma particular de ver a vida.

E de viver de modo diferente o dia-a-dia, o que tanto já contribuiu para que a sociedade mudasse e se desenvolvesse. Nós nos unimos pelas nossas semelhanças, e as nossas diferenças compartilhadas formam o universo que torna tão rico viver em grupo. Meu trabalho como pediatra se baseia nesse princípio.

Começamos a nossa trajetória completamente diferentes – e a maior lição de humanidade que vamos ter talvez seja esta: nos entregarmos aos cuidados das nossas mães.
Mães que tiveram em algum momento a generosidade de nos permitir habitar seus corpos, tomar seu leite, tirar seu sono e tantas outras coisas. Pode acontecer que os bebês sejam responsabilidade do grupo, mas são as mães que vão levar a vida diária com seus filhos. Devemos valorizar o conhecimento interior – chamado animal, intuitivo ou seja lá o que for – para entender como as mães vêem e percebem as necessidades do seu bebê, por mais diversas e sofisticadas que sejam. O que significa também valorizar a mulher nas suas diferenças, que poderão ser reconhecidas nos seus filhos sem que eles se sintam estranhos por pensarem ou sentirem coisas diferentes. Estou falando do indivíduo sério no seu jeito de ser e coletivo na forma de viver seus sentimentos.

Não há monotonia nesta humanidade que se identifique nos sentimentos grupais e se respeita na forma individual de expressá-los.
Atingir a maturidade é pura arte. É criar, concluir uma obra, transformar. Conviver com as dúvidas, os medos sagrados, procurar a libertação, o distanciamento crítico e tantas outras questões.

Quando vejo um bebê, me pergunto o que ele estará vendo, sentindo, cheirando, percebendo, saboreando?

Sempre imagino como um ser extremamente sensorial, perspicaz, capaz de encantar ou se apavorar com um pequeno detalhe.

Um bebê é tão forte no grito quanto delicado nas emoções. Cheio de inúmeras possibilidades.
Queria tanto poder garantir a possibilidade de ele ser livre e escolher amorosamente como vai viver, respeitando a si mesmo e respeitando os outros, amando a si mesmo e amando os outros.
(O respeito por si próprio se revela e se completa no respeito pelos outros; o amor pode ser dirigido a alguém ou a si mesmo.)

Acho que o mundo se transforma a partir de casos simples.

Facilitar a aproximação incondicional das mães com seus bebês é resgatar o vínculo mais importante e prematuro da humanidade.

Não permitir nem considerar natural o afastamento entre mãe e o bebê é lutar por uma ordem social que respeita as nossas necessidades de seres humanos.

Reconheço nos pais um conhecimento oculto a respeito de seus filhos, que pode se expressar desta forma: garantindo que o nosso mundo possa ser vivido e aceito como correto quando se baseia em um sentimento de amor construtivo. É exatamente esse o mundo que eu busco.