segunda-feira, 8 de maio de 2017

Cacá Responde: Cesáreas agendadas na visão do pediatra


Campanha da Unicef "Quem espera, espera"


O nascimento de um bebe é um momento mágico e único. Esta criança que habita um ambiente aquático onde o calor, sua alimentação e oferta de oxigênio estão garantidos. O nascimento deveria ocorrer quando este bebe é capaz de lidar com as novas necessidades que se apresentarão. Ele deverá ser capaz de respirar adequadamente, controlar seu calor e sua taxa de glicemia, devera ser capaz de se alimentar, sendo estas novas necessidades imediatas após seu nascimento.

Na semana passada trouxemos para a fanpage do Espaço Nascente a matéria da Revista Crescer que trata dos riscos relacionados à saúde do bebê que nasce de cesárea agendada ( ou seja Fora de Trabalho de Parto). Percebemos que ainda há muita confusão de informação quando o tema é a via de parto - e portanto selecionamos alguns comentários para tentar positivamente elucidar algumas questões.

A primeira coisa a se ter em mente, é que aqui tratamos em primeira instância, de parto e pós parto sob a luz da neonatologia. Ou seja, a ciência médica que atende o bebê recém nascido. A neonatologia, no entanto tem alguns pontos indissociáveis da medicina obstétrica - que é aquela responsável pelo atendimento da gestante e parturiente. E é desse lugar que faço as observações, olhando o momento do parto como esse evento importante para mães e bebês, em todas as suas peculiaridades.

Nesse olhar sobre o recém-nascido não há duvidas de que uma cesárea programada fora do trabalho de parto aumenta o risco deste bebe ter dificuldades de se adaptar a vida extra-uterina, necessitando muitas vezes de cuidados em UTI neonatal.

A segunda coisa que precisamos ter em mente é que estamos falando de cesáreas ELETIVAS. O que são cesáreas eletivas? São aquelas cirurgias marcadas para o nascimento do bebê, fora de trabalho de parto.

Vamos aos comentários, transcritos aqui da forma que foram postados:

"Mas e qto às mulheres que têm problema de hipertensão e 40 anos de idade, como é meu caso? Acho um sofrimento desnecessário?"

Olhando para a questão do parto com um advento de atendimento à mulher, a obstetrícia falará longamente sobre as indicações reais de cirurgia cesariana. É seguro afirmar que há poucas indicações absolutas para cesáreas eletivas,  como é o caso da placenta prévia (quando a placenta, órgão que alimenta o bebê no útero está implantada abaixo do bebê, impedindo sua passagem pelo canal e inviabilizando o trabalho de parto). Há mais indicações para cesáreas em trabalho de parto, como é o caso de uma ruptura uterina ou descolamento prematuro da placenta, com feto vivo. Isoladamente, idade da gestante ou hipertensão não são indicativos absolutos de cesárea eletiva. No entanto, esse diagnóstico cabe ao médico obstetra. Cabe saber que a medicina obstétrica tem avançado no teor científico das pesquisas, e atualmente sabemos que a esmagadora maioria das cirurgias realizadas no Brasil não tem respaldo científico. Ou seja, são cirurgias que podem ser evitadas.

Para averiguar mais informações sobre as indicações reais de cesária verifique o blog de Melania Amorim, pesquisadora contemporânea da medicina baseada em evidências para atendimento obstétrico.

Do ponto de vista da Neonatologia, assim como retratado na matéria da Crescer e também na atual campanha da Unicef "Quem espera, espera" a condição ideal para o nascimento do feto humano é o trabalho de parto. Sempre que possível (descartadas as indicações reais de cesáreas) os bebês contarão com melhores condições de saúde se tiverem sua idade gestacional interrompida exatamente pelo trabalho de parto, e não antes.

Temos estudos que demonstram que há aumento de risco de morbi-mortalidade quanto mais anterior às 40 semanas for o nascimento: "Analisando 46 milhões de nascimentos, usando dados do National Center for Health Statistics U.S. O resultado revelou que a taxa de mortalidade infantil era de 1.9 para cada 1.000 bebês nascidos na 40a semana de gestação e subia para 3.9 para aqueles nascidos pouco antes, na 37a semana. A formação do pulmão e sua capacidade de funcionar garantindo as trocas gasosas e a oxigenação deste bebe dependem também desta criança ter estado em trabalho de parto. Como um sinalizador de que ira respirar ar fora da barriga e o sistema respiratório deve estar pronto. a ativação dessa capacidade funcional dos pulmões depende também da experiência de um trabalho parto sobre o corpo do bebe."

No caso do comentário acima, há dois aspectos a serem avaliados. A idade da mãe apresenta riscos aumentados para a saúde do bebê quando esta mulher tem uma patologia de base, ou esta mulher desenvolver alguma patologia durante a gestação como hipertensão ou diabetes. Poderia supor que mulheres mais novas (adolescentes) e mulheres mais velhas poderiam ser um grupo de risco maior para estas situações, o que impõem a necessidade de um acompanhamento durante a gestação com maiores cuidados.

A hipertensão da mãe durante a gestação apresenta aumento de risco para a saúde do bebê quando não esta controlada , variando o fluxo de oxigênio e nutrientes para o bebe. Pode haver restrição de crescimento do bebê. O acompanhamento desta situação especial determinara a via de parto, não definindo inicialmente que devera ser uma cesárea. Os acontecimentos durante a gestação, como controle da pressão arterial, reduzem riscos de complicações. Vale sempre lembrar que uma atividade física acompanhada de boa alimentação podem ser seus maiores aliados.


"Nem sempre. Há casos e casos, no meu por exemplo deverá ser uma cesárea pois engravidei 3 meses após uma outra cesárea de emergência, não posso ter contração então será programado uns dias antes. Mas se eu pudesse eu gostaria de ter normal a recuperação é mais rápida."


Para responder essa questão, contei com a visão de uma obstetriz, reconhecida nacionalmente pela luta em defesa dos direitos das mulheres e bebês através da medicina baseada em evidências. Ana Cris Duarte comenta: "Pode ser que seu médico ou você não tenha informado a verdadeira razão para essa cesariana, mas sem dúvida alguma que a última cirurgia ter ocorrido cerca de 12 meses antes do nascimento deste bebê não é uma indicação tão clara. Os estudos mostram que o risco de ruptura uterina após cesariana é bem baixo, sendo inclusive bem mais baixos de que as complicações graves de uma nova cesariana. Se você de fato deseja um parto normal, sugerimos que procure uma segunda opinião."


Foto Wikipedia


"Tive duas cesarianas, sendo há 60 dias a mais recente e posso dizer que foi tranquilo o pós operatório. Cada mulher com seu médico deve conversar e saber o que será melhor para ambos ( mãe e bebê)."

Sem dúvida as mulheres e seus profissionais de saúde precisam estar alinhados para fazerem as escolhas possíveis para cada quadro. No entanto, quero aproveitar esse comentário para lembrar que atualmente vivemos um cenário na medicina obstétrica e neonatologia que pode apresentar mais comprometimento com os sistemas de saúde, os lucros dos hospitais, as horas trabalhadas dos médicos, do que efetivamente com a saúde do binômio. Falamos em "epidemia de cesáreas" exatamente porque essa cirurgia é adotada como saída mais rápida e lucrativa, à despeito do que os estudos comprovam. Existem muitas estratégias dentro dos atendimentos profissionais que acabam levando mulheres a supostamente "escolher" a cesárea. Uma delas, seria o profissional não abordar, por exemplo, os riscos envolvidos da cirurgia. Todos eventos de parto tem seus riscos inerentes, sejam eles o parto vaginal ou a cesariana. Cabe reforçar que a cesariana aumenta em 3x tanto para mãe quanto para o bebê, o risco de morte. É uma cirurgia abdominal de grande porte que pode trazer complicações para a mãe. No caso do bebê, falando das cesarianas eletivas, elas estão relacionadas com a prematuridade iatrogênica: que é a prematuridade provocada.

Sabemos que as UTIs neonatais estão sempre cheias de bebezinhos que "nasceram antes do tempo". Uma boa parte desses casos seria evitada, caso o tempo gestacional completo tivesse sido respeitado.
As consequências da prematuridade iatrogênica para o bebê podem ser simples ou desastrosas. Estamos falando de fetos que ainda precisam maturar os pulmões, aprender a respirar, ser capazes de sugar o seio materno e uma série de outras conquistas da maturidade, necessária para trocar a vida no útero pela vida fora dela.

Não há nenhuma dúvida que o bom profissional médico, baseado em evidências, respeitando as escolhas da mulher gestante é decisivo para o parto. No entanto, temos que refletir: temos bons profissionais de saúde? As escolhas dessa mulher estão sendo feitas com base na informação ou nos interesses do sistema que lucra com as cirurgias desnecessárias?

Recomendo assistirem o documentário "O renascimento do parto".

Mas não esqueço de enfatizar que você tem razão em dizer que cada mulher deve conversar com seu médico garantindo mais confiança nessa relação.

Foto Max Pixel

"Tive duas gestações, a minha primeira tentei ter normal usando meios para a dilatação mas rápida e nem assim eu tive normal pq quando dilatei os 10 cm a minha bb subiu e mudou de posição então fui pra o cesariano e ocorreu tudo bem. Ja na segunda gestação apos 3 anos da primeira fiz meu parto humanizado e mesmo assim acabei indo pra cesariana de novo. Tudo tranquilo, tendo precisão no momento acho super aceitável."

Com esse comentário acho importante frisar que quando falamos de novos paradigmas para o atendimento de mães e bebês não estamos dizendo que cesárea é melhor que parto normal para todos os casos. As cirurgias cesarianas salvam vidas e quando bem aplicadas são mesmo não só aceitáveis como desejáveis. A discussão que se apresenta fala sobre modelo tecnocrata (onde se concentram a maioria das cirurgias cesarianas) X modelo baseado em evidências (que as pessoas tendem a chamar de parto humanizado, ou fisiológico). Há muita confusão nessa discussão, porque o atendimento baseado em evidências não significa, per se, um parto vaginal. Significa apenas que as melhores escolhas, baseadas na ciência, para respeito à saúde e bem estar de mulher e bebê foram adotadas. E, conforme matéria da Crescer e Campanha da Unicef, estamos trabalhando no sentido de alertar sobre os riscos das cirurgias desnecessárias.

Mas é muito bom que tenha feito este comentário para que fique claro que a opção por uma cesárea necessária é fundamental para resguardar o mais importante do processo de parir: o nascimento da criança, da mãe, do pai e de toda uma família.


"Conheço milhões de mulheres que tiveram cesarianas e nem um bebê tem problemas, não acredito nisso." 


Realmente, uma cirurgia cesariana desnecessária não é garantia de problemas. No entanto, ela aumenta a chance de ter problemas. É a mesma coisa que o tabagismo, ou hábitos alimentares baseados em junk food. Nenhuma dessas coisas garante que sua saúde será ruim, que você terá doenças ou problemas. Mas aumenta os riscos.

No caso da cirurgia cesariana, existem pontos importantes para a gente ter em vista. Quando um bebê não nasce pela cavidade abdominal ele perde o contato com a flora bacteriana da mãe, reconhecida atualmente como uma vacina natural, que coloniza o bebê vindo de um ambiente estéril e hermético (o útero) já ativando seu sistema imunológico. Tanto é que atualmente já se estuda a aplicação dos fluidos vaginais da mãe no bebê nascido por cirurgia, como forma de transferência microbial. Não devemos esquecer do uso de antibióticos precocemente que servirá para a modificação da flora bacteriana da mãe e de seu filho e das possíveis complicações oriundas disto.

A formatação epigenética dessa criança recém nascida é diferente, quando nascida por parto vaginal. Isso é um fato, não um boato. 

Estudos também comprovam o risco aumentado de doenças respiratórias, alérgicas, diabetes tipo 1 e obesidade em crianças nascidas por via cirúrgica. Isso significa que toda criança que nascer por cesariana será asmática? Não. Isso significa que o risco é aumentado.

Não podemos esquecer que o aleitamento materno, tão importante para a vida e sobrevivência deste bebê fica em risco de não acontecer ou de ser mais curto quando o contato da mãe com o bebe fica prejudicado desde o nascimento, como ocorre numa cesárea agendada, quando o bebe não esta preparado para nascer.

Quando falamos de saúde, falamos das questões individuais e também dos impactos coletivos das ações em larga escala. Em um país que concentra aterrorizantes 45% de nascimentos por vias cirúrgicas, as consequências para a saúde pública também não podem ser desconsideradas, principalmente usando como argumento casos isolados para descredibilizar essa necessidade de mudança de modelo. As cirurgias desnecessárias são um problema de saúde pública, antes de um problema individual.

Foto Wikipedia

"A pesquisa dos cientistas pode ate ser fato.... Mas NA MINHA OPINIÃO e por essa devoção por parto normal que mts mulheres ou bbs morrem em salas de parto, por insistirem numa coisa que não e o melhor pra eles por medo de não ter sido "mulher o suficiente" e ter que fazer uma cesaria... Quanto a recuperação não existe essa de PN ser mais rápida, eu fiz uma cesaria e no mesmo dia estava tomando banho, andando e cuidando sozinha do meu filho! E quanto a problemas de saúde.... Meu filho em oito meses nunca pegou nem resfriado!"

"Sinceramente, tenho muito mais medo de ficar 16 a 20 horas em trabalho de parto pra no fim fazer uma cesárea de emergência e meu bebe falecer como muitos casos em minha cidade."

É muito duro encarar essa realidade, mas o parto é um evento (talvez um dos poucos que temos a chance de experimentar) onde vida e morte caminham lado a lado, e uma delas vence. Na maioria das vezes, vence a vida. No entanto, há casos de morte materno-infantis que NÃO podem ser evitadas. Mesmo sendo feita uma cesariana.

Seja em um atendimento de parto via vaginal ou via cirúrgica, devemos aqui pontuar a competência técnica dos profissionais de atendimento ao parto - à mulher e ao bebê. Atualmente temos a construção de um imaginário de perigo em torno do parto vaginal . Confiar na natureza e perceber o corpo humano como capaz de parir e de nutrir sua cria ainda é feito por poucos profissionais de assistência ao nascimento e essa informação acaba não chegando a população com clareza.

Mesmo os relatos das mulheres de quatro ou cinco décadas atrás, quando a cirurgia cesariana ainda não era usada em larga escala, serão recheados de medos e indisposições. Pontualmente, a violência obstétrica contra a mulher e o recém nascido se expressa no parto normal de variadas formas, todas sem embasamento científico. Manter a mulher em posição deitada, proibir de comer ou beber água, fazer lavagem intestinal, raspar os pelos pubianos, muitas vezes, amarrar a mulher à maca. Empurrar a barriga, dirigir os puxos, ofender a mulher. Usar equipamentos e manobras perigosas, como a episiotomia ou o fórceps, entre outras situações muito difíceis, desagradáveis e desnecessárias muitas vezes. As mulheres passaram e passam por tudo isso ao longo da história dos nascimentos. Portanto há de se refletir que parto normal não significa atendimento humanizado, nem tampouco baseado em evidências. As práticas ruins estão também nesse universo. Tanto é que foi preciso especificar qual parto normal é esse : Parto Natural / Parto Humanizado .

Um pouco de cultura pop para ilustrar a questão: Recomendo que assistam à cena de parto de uma mulher na década de 50, retratado no episódio 5 da temporada 3 de Mad Man. Uma cena de atendimento ao parto dantesca, carregada de simbolismos e opressão, de quando se acreditava que o melhor modelo de atendimento seria manter a mulher semi-consciente à base de drogas, com muitas intervenções em um cenário desumanizante.


Depois, se tiverem interesse em confrontar as bases de um outro modelo de atendimento ao parto e ao bebê, assistam à série Call the Midwife, também na década de 50, mas que evidencia  a competência técnica e abordagem humanizante dos agentes de saúde, tratando o parto como um evento familiar e respeitoso (essa série é baseada nas memórias de uma parteira inglesa).

Existem muitos obstetras comprometidos com sua missão e vão garantir informação de qualidade. Mas compreendemos que para garantir o parto e o nascimento como rituais únicos fundamentais à espécie humana tanto física quanto emocionalmente, precisamos poder enxergar outras possibilidades deles ocorrerem, através de outros possíveis agentes do processo.

Parteira na Roma Antiga: foto da Wikipedia

"Eu nasci de Cesárea , meu irmão nasceu de Cesárea , minha mãe também Meu esposo também Meu pai , meus tios , vários dos meus primos e graças a Deus nenhum de nós apresentou problemas por isso ! E quando eu tiver meus filhos , sem duvida vai ser Cesárea !!!!"

Verdade, muitas pessoas que amamos nasceram de cesárea, isso não precisa impedir que a gente reflita sobre essa questão. Fica a reflexão: a quem serve essa cultura de ignorar que a cesárea desnecessária - mesmo que cientificamente comprovado - é um fator de risco para o bebê e para a mãe? 

Vamos relembrar que estamos falando de um modelo de atendimento e não de uma via de parto. Para os casos de bebês e mães saudáveis, nas gestações de baixo risco sempre é recomendado que essa mulher entre em trabalho de parto. É recomendado que os profissionais de saúde sejam tecnicamente competentes para partejar, e adotar as medidas estritamente necessárias para os desfechos positivos. É recomendado também que essa dupla seja atendida como os seres humanos que são, dignos de respeito e direitos. Estamos falando de coisas que protegem nossa condição humana, nossa vida, nossos filhos, para além do que provam as pesquisas. 

Um bebê que acaba de sair do ventre deve ir direto para os braços da mãe, e acreditem, é bem possível e desejável que seja inclusive aparado pelas suas mãos. 

O que vemos atualmente são bebês passando como peças de uma linha de montagem por toda uma sequência de procedimentos desnecessários e invasivos, enquanto suas mães são alienadas em uma sala fria de hospital.

O reconhecimento desses dois seres é um dos momentos mais pungentes da vida humana, e dia após dia, milhares de mães e bebês perdem o direito de se olharem pela primeira vez, livremente.

A amamentação na primeira hora é lei em diversas cidades do pais. Somos todos à favor de políticas públicas que promovam o bem estar do recém nascido e de sua mãe, no entanto é alarmante que precisemos legislar sobre algo tão óbvio quanto permitir que o mamífero recém nascido esteja em contato direto e irrestrito com sua fonte de vida e prazer. Não raro, problemas de amamentação podem ser advindos de experiências de parto traumáticas - ainda que socialmente validadas. Sabemos que qualquer interferência nesse primeiro encontro entre a mãe e seu bebe pode reduzir a chance da amamentação ser exclusiva e duradoura.

Imagem Wikipedia


Já existe o conceito de alojamento conjunto em diversos hospitais, no entanto o que vemos é que para facilitar a dinâmica do atendimento hospitalar em massa, e em especial em casos de cirurgia quando a "recuperação da anestesia" é usada como justificativa lícita, outros milhares de bebês e mães, que há poucas horas eram um só, são apartados em esperas intermináveis. Considerar a mulher como incapaz de cuidar da sua cria desde o nascimento, sem facilitar o contato entre mãe-bebe auxiliando nos cuidados, para deixar a mãe descansar do parto pode significar incapacidade dessa mulher em cuidar desde o começo. Ao invés de fortalecer o vinculo e qualificar a mulher como capaz, a consideramos sem condições.

Vemos berçários alimentando bebês com doses de glicose antes mesmo que tenham a chance de sugar o seio da mãe. Vemos bebês sendo mantidos aquecidos em caixas tecnológicas, enquanto são fisiologicamente projetados a regular sua temperatura à partir do corpo materno. Veja novamente, essa discussão está para além da via de parto. É sem dúvida, sobre jeito que nos tratamos como humanos.

O modelo de atendimento atual não prejudica apenas a saúde física das pessoas. Desrespeita também seus complexos psíquicos e emocionais. 

Vamos dar uma chance à humanidade, esse resgate é de suma importância.