sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Como ser pai do meu filho tendo sido filho do meu pai

Homens sem filhos, quando decidem que um dia os terão, ou são surpreendidos quando descobrem que serão pais, imaginam que um dia dobrarão essa barreira do desconhecido, se dividem geralmente em dois grupos distintos.

Ou questionam tudo que lhes foi feito na infância, sonhando com uma renovação plena do papel de pai e com filhos idílicos (que só poderiam ser mesmo filhos da falta de realidade), ou concordam cegamente com seus modelos de pai. Simplesmente não questionam. Não param para pensar nisso. Principalmente quando sua história como filho, tem um pai ausente.Principalmente numa sociedade que não enxerga a paternidade como algo importante e muito bom de ser vivido.Quando a sociedade concorda que o importante é a MÃE !

A consciência de que é preciso saber transitar entre os papéis de pai e filho, inclusive quando se é pai sendo filho e filho sendo pai, é algo que só acontece em algum momento, estranhamente, de ser pai e filho.Quando ao nascer seu filho você se depara com esse novo papel : Sou pai agora !

Confuso?

Oras: ser pai do meu filho é ser filho do meu pai ao mesmo tempo. Existem momentos em que eu, como pai, questiono o que me foi feito como filho. Quem era meu pai ? Quem serei eu como pai? Esse sou eu, sendo pai e sendo filho. E há momentos em que acato tudo o que meu pai disse, porque agora filho, tenho eu. Me perco na diferenciação entre eu e meu pai. Entro em conflito com as minhas memórias, pois ha magoas do filho guardadas. Mas talvez agora seja tempo de acolhe-las e tentar curá-las. E consigo atingir dentro de mim a lucidez de ser pai que foi possível ao meu. Esse sou eu, sendo filho e sendo pai.

Transitamos, quando os filhos nascem, para um outro lugar, e a ideia de que abandonamos o antigo é às vezes motivo de confusão de sentimento: essa bagagem carregaremos para sempre, de ter sido filho de alguém que enquanto era pai, também foi filho de alguém. Transmiti-se a cada geração um modelo familiar de "Pai", os homens da família. E na busca do próprio modelo teremos que conhecer este legado familiar para poder absorver e romper com ele. O difícil de conhecê-lo é que geralmente é uma lembrança de magoa ou dor ou ainda de ser superior.

Questionar e acolher o passado na vida presente. Sim e não. Pai e filho.
São essas as dicotomias que precisamos aprender a lidar com saúde. Com alegria!
É isso que faz da gente melhores pais para nossos filhos, por perdoar nosso pai. Ao fazer isso podemos perdoar nossos erros. É isso que faz da gente filhos melhores para nossos pais, por humanizar nosso filho, humanizamos nossas relações parentais. Deixamos uma herança mais leve!

Esse documentário é sobre como somos preparados para crescer como homens nesta sociedade. Não é apenas sobre a sexualidade masculina, mas principalmente sobre o cidadão homem, o ser humano homem e a solidão de ser homem!
A pergunta é: Sou um cara legal comigo?
As outras são mais fáceis de responder!





Nesse sábado, na Roda de Pais do Espaço Nascente falaremos de Heranças!
Venha contar sua historia ou apenas ouvir as histórias.
Venha perceber que são varias possíveis histórias.
Venha correr o risco conosco de poder mudar essa história !
Venha !


Ilustração Rodrigo Bueno