terça-feira, 7 de junho de 2016

Siaparto 2016 - Nascimento e Humanidade



Na terceira edição do Siaparto, Cacá teve espaço de destaque para falar das práticas recorrentes dentro da sala de parto. Muito embora as recomendações baseadas em evidências científicas para o nascimento de bebês normais há muito tempo já apontem que o melhor a se fazer é não fazer nada, ainda estamos caminhando na árdua luta de espalhar a informação, e especialmente, sensibilizar profissionais da área sobre essas condutas.


Desde 2005, o Ministério da Saúde  reitera que “Com os RN normais, nada mais deve ser realizado além de enxugá-los, aquecê-los, avaliar as suas condições e entregá-los às suas mães para estabelecer um contato precoce e íntimo. As manobras de reanimação devem ser realizadas apenas em situações necessárias, sendo desaconselhável empregar estes procedimentos de forma rotineira.” Corroborando a ideia da não intervenção sem necessidade, estão também em alinhamento os textos da organização Mundial de Saúde e da Academia Americana de Pediatria. Em todos os casos, a premissa básica é: entregar o bebê saudável à mãe.

                              

O atendimento humanizado ao Recém Nascido no Brasil é lei. A portaria 371 de 2014 preconiza o contato imediato com a mãe, clampeamento tardio do cordão e estímulo ao aleitamento, além de recomendar que os procedimentos de rotina como pesagem e medições antropométricas e profilaxias sejam postergados.

Mesmo assim, o cenário de recepção ao recém nascido ainda aplica condutas invasivas e dolorosas, como aplicação sistemática de colírio, massagens vigorosas em busca de vitalizar bebês, vacinas e aspirações, em detrimento a aspectos naturais e inestimavelmente mais importantes, como a amamentação na primeira hora, contato pele a pele e o imediato reconhecimento de mãe e bebê. 




  "Minha grande questão atualmente sobre a recepção ao recém nascido normal é o não fazer. Me interesso em observar, e à partir da observação, a confirmação, que a vida começa nesse espaço onde não fazemos nada."

No Siaparto, a reflexão de Cacá se ampliou para todos os profissionais presentes, mostrando a possibilidade de humanização na prática, com seu jeito afetuoso peculiar. Uma palestra de extrema importância, para nos lembrar sempre que a ciência não pode se perder da humanidade.



“Entendo por HUMANIZAÇÃO o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor”.

Antônio Cândido