segunda-feira, 9 de abril de 2012

Linguagem de sinais para bebês diminui frustração

Antes de falar, bebês podem indicar se estão com fome, sede ou calor. Método é eficaz, mas só vale se não desgastar o vínculo entre mãe e filho.

Renata Losso, especial para o iG São Paulo 30/03/2012.

Ensiná-los a se comunicar é como ensinar a dar tchau.
Quando o bebê começa a chorar incessantemente, mães costumam agir por tentativa e erro até descobrir o que o aflige. Mas para Natália Sant’ana Hayashi, de 29 anos, essa dificuldade durou pouco. Por volta dos oito meses de idade, Bárbara, filha de Natália, era capaz de demonstrar o que queria usando linguagem de sinais. Nas últimas décadas, estudos científicos revelaram que os bebês, antes de aprenderem a falar, são capazes de se comunicar por meio de gestos e sinais com mais facilidade do que se imagina. Para a mãe, foi um alívio. Assim como para muitos pais norte-americanos.

Uma das pioneiras no assunto é Linda Acredolo, especialista em desenvolvimento infantil, cofundadora do Programa de Sinais para Bebês (Baby Signs Program) e coautora do livro “Sinais: A Linguagem do Bebê –Como se Comunicar com o Seu Bebê Antes que o Bebê Possa Falar” (M. Books). Em entrevista por e-mail, ela afirma que já existem mais de mil instrutores da linguagem de sinais para bebês nos Estados Unidos, além de representantes em diferentes países, dispostos a ensinarem mães interessadas.

Para Linda, além da comunicação, a linguagem de sinais para bebês reduz a frustração, mostra aos adultos que os bebês são mais espertos do que se imagina, enriquece o vínculo entre mãe e filho e promove um desenvolvimento emocional mais saudável. E não é complicado. “Ensinar sinais é como ensinar os bebês a acenarem ‘tchau’: uma simples ação combinada a uma palavra, que deve ser repetida consistentemente, muitas vezes e em diferentes situações”, diz.

Janaina Vessio, à época secretária bilíngue e hoje mãe em tempo integral, leu o livro de Linda e decidiu ensinar a linguagem de sinais ao filho Nicholas (veja vídeo ao final da página). Ele tinha oito meses. “Resolvi aplicar com o Nick depois de ler muito e entender que a frustração e as birras estão relacionadas ao fato do bebê não conseguir expressar o que quer”, escreveu. Hoje a mãe define Nicholas, com pouco mais de três anos, como um “menino esperto e capaz de lidar muito bem com frustração”. “Acredito que isso tenha a ver, sim, com os sinais”.

Ela pretende ensinar a linguagem de sinais para os gêmeos Noah e Olivia, hoje com três meses, quando for a hora.

Método se baseia na associação dos sinais aos objetos, de maneira consistente, acompanhados da repetição da palavra.


Gestos brasileiros

No Brasil, a linguagem de sinais começou a ser difundida recentemente. Natália aprendeu com a especialista em estimulação pré-natal e infantil Paula Olinquevitch, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Little Genius. Segundo ela, as mães podem começar a apresentar os sinais um pouco antes dos seis meses. A partir de cerca de oito meses – período que varia de bebê para bebê – os primeiros sinais começam a aparecer. Foi por volta desta idade que Bárbara olhava para a mãe e fazia sinais dizendo que estava com calor ou frio.

A cantora Wanessa Camargo também recorreu a Paula para aprender como mostrar ao filho José Marcus, de três meses, a linguagem de sinais. O curso é simples e dura cerca de duas ou três horas. As mães aprendem a parte teórica sobre os sinais e um repertório básico. “Na primeira aula as mães já aprendem vinte sinais”, diz Paula.

A linguagem de sinais para bebês não é tão complexa quanto a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). As crianças surdas, por exemplo, irão aprender toda a gramática de LIBRAS, linguagem que não será utilizada apenas por um período curto. Já as outras crianças só precisarão aprender os sinais para se comunicarem até o momento em que começam a falar. Até lá, os pais não podem se esquecer de continuar acompanhando os gestos com a linguagem verbal.
Após um tempo, a criança associa o sinal ao objeto.


Entre sinais e palavras

Para Camila Reibscheid, pediatra do Hospital São Luiz, em São Paulo, ensinar ao bebê a linguagem de sinais é uma atitude extremamente benéfica. “A criança realmente tem a capacidade de aprender”, comenta. Os receios de que os gestos substituam a fala e atrasem o desenvolvimento verbal da criança são refutados pela neuropediatra Saada Resende de Souza Ellovitch, especialista em neurodesenvolvimento. “(A linguagem de sinais) é um método alternativo, não prejudica a entrada auditiva. É uma entrada sensorial a mais para o cérebro”.

Esse estímulo pode fazer com que as crianças tenham um ganho de vocabulário e comecem a falar mais precocemente. Mas tudo depende do desenvolvimento natural da criança.

De acordo com o neurologista e neuropediatra Mauro Muszkat, da Unifesp, o bebê começa a processar o mundo primeiramente através da mediação gestual e intuitiva para depois chegar à linguística. Para ele, a linguagem de sinais irá, sim, estimular a comunicação verbal precoce. Mas o principal é pesar os ganhos e investir na sintonia com a criança. “A afetividade com que a mãe conduz o vínculo é mais importante na comunicação do que o estímulo”.

Vídeo do Nicholas, aos 11 meses, usando a linguagem de sinais: