terça-feira, 17 de abril de 2012

E o pediatra?

É interessante observar como algumas mulheres percebem o nascimento de seus bebês. Observo que há um grande investimento no parto. Técnicas de preparo corporal, vaginal. Pessoas especiais para acompanhá-las durante o trabalho de parto e parteiros dedicados a causa do parto natural. O que considero super apropriado. E o pediatra?

É claro que quando o parto transcorre sem anormalidades, o pediatra não terá um papel importante no parto. Poderá ajudar no acolhimento do bebê de forma suave. Mas não terá uma função médica, técnica importante. Mas assim como o pediatra nenhum dos profissionais contratados será de grande importância quando o parto transcorrer sem complicações.

É sobre este tema que faço esta reflexão. Já assisti vários filmes com depoimentos de profissionais do parto e de mulheres que diziam que um parto natural garante um nascimento tranqüilo e muita facilidade em lidar com o bebê. Será tão simples assim? Um parto natural gera uma mãe e um pai aptos e um bebê tranqüilo? Existe esta magia?

Na minha experiência, não. Já assisti a partos naturais lindos e sem complicações com um pós-parto complicado. Amamentação, bebês chorões, muita privação de sono são alguns dos componentes do pós-parto que podem ser bastante difíceis.

Por outro lado já assisti pais de filhos com cesariana indesejada que tiveram um pós-parto super tranqüilo. Não acredito que ter o parto desejado seja garantia do nascimento de um bebê fácil de lidar e é aí que o seguimento no pós-parto fará grande diferença. Mesmo com todas as surpresas que o nascimento pode trazer.

Acredito que meu trabalho seja este. Ajudar na constituição de uma família com pais empoderados. O empoderamento da mulher não se resume ao parto, ele se completa com o nascimento. E aí aparece a razão de ter um pediatra que auxilie neste processo. Este sim será meu papel caso não surjam questões durante o trabalho de parto e o parto, que solicitem uma intervenção mais técnica como cuidador do bebê.

Quando nasce um bebê nasce uma família. Nasce pai e mãe. Nascem avós, tios e aparecem várias opiniões conflitantes sobre o que é certo e errado. E fundamental auxiliar os pais nas escolhas que farão da forma como querem construir sua família. Cada um terá que abrir mão do modelo que conhece de família, para juntos construírem sua própria família. Sem imposições e sim sugestões de modelos adequados ao que acreditem ser o correto. E o fortalecimento dos pais para enfrentar toda a cobrança social que será feita, já que um bebê é visto como um bem público, todo mundo com direito de opinar.

Espero ser capaz de estar e ser presente...

Por Dr. Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá.