segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Entre na brincadeira

Entrei na brincadeira, e respondi umas perguntas à querida Déborah, que fez esta matéria maravilhosa sobre a arte de brincar com os filhotes. Tenho mais sobre o assunto, mas acho que rende para mais um post! Desfrutem!


Entre na brincadeira

No mundo superprogramado de hoje, até crianças já sentem que infância passa rápido, porque não há tempo para brincar livremente. Escola, cursos e monitores têm seu papel, mas seu filho quer brincar com alguém muito mais especial: você.

Por Deborah Trevizan, mãe de Isadora e Pietro

Num domingo desses, a publicitária Luciana levou o sobrinho para o playground do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Atordoado com tanto espaço e sem professor, monitor ou animador por perto, o menino perguntou: "Tia, que é que eu faço agora?". A tia, que passou a infância no interior, e nunca teve essa dúvida quando criança, claro, ficou perplexa. "Ah, menino, vai brincar. Agora eu vou ter de ensinar criança a brincar?" Pois é. Parece que as coisas passaram tanto da medida que, sim, nós, adultos, precisamos lembrá-las de como inventar as próprias brincadeiras. Na escola e nos cursos, tem hora certa para brincar de boneca, pular corda ou jogar xadrez, sempre sob a supervisão de um monitor.

Atividades programadas têm seu papel, óbvio. Mas o trabalho da criança é brincar. Livremente. E os adultos têm um papel fundamental na brincadeira. Mas não só o adulto que é pago para isso. Seu filho quer brincar com você, pai e mãe. E também com a tia, os avôs, as avós... E cada vez que você topa entrar na brincadeira seu filho ganha, mas você também. Ele sente que você tem tempo para ele, se sente amado, feliz.

Se você se der o direito de virar criança um pouco com ele vai sentir os efeitos: brincar conecta, relaxa, abre novas possibilidades de entendimento, troca de papéis, é uma delícia. "A brincadeira é fundamental entre pais e filhos, não só porque os primeiros transmitem às crianças a cultura da brincadeira, ensinando-as a brincar, como estreitam os vínculos permitindo que se estabeleça uma relação afetiva. Também ajuda no desenvolvimento intelectual, afetivo, motor e social dos pequenos", explica a pedagoga Maria Angela Barbato, filha de Rosina e Luís.

Então, a melhor maneira de dar mais tempo para seus filhos é brincando. As crianças experimentam a ideia do tempo por meio da brincadeira, segundo uma pesquisa desenvolvida pela Nestlé, com foco na observação de crianças de 4 a 11 anos em escolas públicas e particulares de São Paulo e também em uma creche. O objetivo da pesquisa foi analisar essas crianças brincando em uma grande metrópole. Um dos aspectos que mais chamaram a atenção da pesquisadora Paula Pinto, mãe de Maria Luiza e Gabriela, antropóloga responsável pelo trabalho, foi a relação das crianças com o tempo nas brincadeiras.

É no ato de brincar que elas podem se transformar no que quiserem: bicho, adulto, mulher ou homem, voltar a ser bebê. Para Paula, as crianças também sabem que o tempo passa e não volta mais. “Há uma sensação de irreversibilidade em relação ao tempo, percebida na fala delas, como 'infância é alguma coisa que passa rápido', 'que a gente tem de aproveitar' ou 'que não volta mais'. É como se as crianças, ao viverem um momento em que é permitido brincar, vivessem em um mundo que é só delas”, afirma a antropóloga.

Muito ajuda quem pouco atrapalha
O excesso de zelo dos pais pode atrapalhar as crianças em suas brincadeiras. Uma pesquisa realizada pela marca OMO em quatro países, Brasil, Argentina, França e Reino Unido, revelou que aqui os pais se preocupam muito com a segurança das crianças durante as brincadeiras. Cerca de 82% dos pais brasileiros entrevistados alegaram preocupação com a possibilidade de as crianças se machucarem, o que acaba sendo um impedimento na hora de deixá-las experimentar coisas novas. Nos outros países participantes da pesquisa o número cai para 69%.

Os índices de violência, principalmente nas grandes cidades, e o fato de os pais passarem muito tempo longe dos filhos, contribuem, sem dúvida, para esse excesso de zelo. De acordo com Jerome e Dorothy Singer, professores de psicologia da Universidade de Yale (EUA) e coordenadores desta pesquisa da OMO, é fundamental que as crianças vivenciem experiências novas que envolvam um certo risco, desde que com supervisão e regras claras. Para a gerente de marketing da marca, Regina Camargo, mãe de Margarida, Theodoro e Irene, as crianças brasileiras poderiam ser mais incentivadas a participar de jogos ao ar livre.

Brincadeira é coisa séria
Muito séria. Brincando se explora o mundo, se constrói o saber, se aprende a respeitar o outro, além de desenvolver o sentimento de grupo e ativar a imaginação.

Para a psicóloga e consultora da fabricante de brinquedos Hasbro, Eliana de Agostini Rolim, mãe de Julia e Rafael, o brincar é uma necessidade básica da criança, assim como a nutrição, a saúde, a habitação e a educação. Para ela, é fundamental que os pais possam destinar algumas horas para brincar com a criança.

“No brincar a criança tem a oportunidade de expressar seus sentimentos, anseios, desejos, necessidades, alegrias e tristezas. É nessa brincadeira que a criança aprende a negociação de regras de convivência, e a representação dos seus sentimentos. Brincando de escolinha, casinha, dentista, ela representa e interpreta o mundo adulto. É interessante observar a criança brincando”, completa a psicóloga.

Não só observar, mas garantir seu espacinho na brincadeira. Especialistas afirmam que a participação ativa dos pais fortalece a segurança e a autoconfiança das crianças em suas experiências e descobertas, além de estreitar a relação. E caso os pais tenham se esquecido de como brincar ou se sentem inseguros sobre as brincadeiras mais apropriadas, já existem especialistas que podem dar uma ajuda.

Na Academia Boobambu, voltada a atividades infantis, em Brasília, uma das palestras mais procuradas pelos pais é “Como estimular seu filho brincando”, que orienta sobre as fases de desenvolvimento das crianças, as melhores brincadeiras para cada faixa etária e sobre a importância de brincarem juntos.

Para a educadora Silvia Lobato, filha de Gabino e Ivone, responsável pelo curso, as brincadeiras ajudam os pais a interagirem e conhecerem melhor seus filhos. “Muito mais do que passatempos, essas atividades próprias da infância colaboram na organização da rotina das crianças e as prepara para a vida adulta. A brincadeira é indispensável no contexto familiar”, completa a educadora.

Para o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, filho de Sylma e Victor, o brincar para a criança é o meio pelo qual ela descobre e explora o mundo – e se essa descoberta for sustentada pelo amor dos pais, os benefícios só aumentam. “Descobrir o mundo com a certeza do amor dos pais é a coisa mais bela e que fará com que a curiosidade se prolongue”, afirma o pediatra. Então, aproveitando o mês das crianças, dê esse presente, o melhor de todos: brinque bastante com seu filho.

Brincar com seu filho
*Quando?
A toda hora, até mesmo antes de nascer.
*Onde?
Em qualquer lugar. Os bebês já brincam dentro da barriga das mães.
*Como?
Deixando a criatividade fluir. Pergunte ao seu filho, ele é a melhor pessoa para responder esta pergunta.
*De quê?
De tudo, com brinquedos, sem brinquedos, de correr, de pular. Não há limites para a imaginação nas brincadeiras.
*Por quê?
Porque o brincar ajuda, entre outras coisas, no desenvolvimento de importantes funções mentais, como o raciocínio, a memória, a concentração, a simbolização e a linguagem. E porque brincar é bom demais.

10 dicas pra brincar melhor com seu filho
*Conversem e se toquem
*Não rotule
*Cultive a organização, ensinado-o a guardar os brinquedos, por exemplo
*Deixe que a criança tome a dianteira
*Pesquise um pouco mais sobre o desenvolvimento infantil
*Arrume tempo para brincar
*Não tenha preconceitos
*Não tenha pressa
*Tenha muita disposição
*Vire criança novamente

10 melhores brincadeiras pra fazer com seu filho (e o que ele aprende)
1. Jogos de faz-de-conta
Dá à criança a oportunidade de aprender sobre relacionamentos e interação social
2. Exploração do corpo com os pais
Estimula a consciência corporal
3. Dançar
Deixa as crianças mais livres e mais soltas
4. Imitações
É um ótimo exercício de observação
5. Brincar de boneca
A criança pode experimentar atividades que, na vida real, não seriam possíveis
6. Inventar histórias coletivas
Favorece o convívio social, e as crianças aprendem a trabalhar em grupo
7. Caça ao tesouro
Desenvolve o raciocínio sem que pensar se torne uma tarefa chata
8. Jogar e ensinar jogos de tabuleiros ou de ação para os mais velhos e aventureiros
Possibilita agir para ver resultados
9. Ensinar jogos de Internet
Favorece a interação entre pais e filhos
10. Andar de bicicleta
É uma atividade física, e os benefícios são comprovados cientificamente