quarta-feira, 8 de agosto de 2012

E se pudéssemos viver num mundo melhor?


E se pudéssemos ser mais felizes?

E se todos

fossem felizes

para sempre?


Como pediatra e neonatologista, acompanho todos os dias as pessoas acreditando nisso, investindo nesse lindo sonho e tendo filhos. Filhos que esperamos que possam ser pessoas melhores, maiores e cada vez mais felizes. Filhos que possam viver num mundo melhor, mais amoroso, harmonioso e equilibrado. Afinal, a esperança de vivermos outra realidade nos motiva e

nos ajuda a buscar construir uma condição melhor que beneficie a todos. Um mundo respeitoso e amoroso, onde possamos apreciar suas belezas, colher seus frutos, nadar nas suas águas, respirar seu ar puro e compartilhar estas delícias com nossos filhos e amigos sem precisarmos viver a fobia de que este seja o último minuto.

Como pais, como educadores ou, ainda, como pediatras, temos a rara e grande possibilidade de mostrar às nossas crianças como cuidar deste mundo e como nos cuidarmos. O espírito de cuidador garante ao ser humano uma habilidade maior de ser cuidador de si, podendo ser capaz de se alimentar, manter-se saudável, procurar seus amores, se dar prazer. E o que é esperado de uma boa educação é que possamos ajudar as crianças a desenvolverem este espírito de amor-próprio e amor pelo outro, que lhe garanta condições de encontrar este estado especial de bem-estar. Um bom exemplo disso é no momento em que introduzimos os alimentos aos nossos filhos. Nas populações mais antigas, as mulheres mastigam e dão os alimentos retirados da própria boca para seus flhos. Há tanto carinho em preparar esses alimentos para que seus filhos consigam saboreá-los, e devemos lembrar que, para uma criança, os alimentos são percebidos como pedaços do mundo que são engolidos. Como se cada cor, cada textura, cada temperatura proporcionasse uma incrível viagem sensorial refletindo um ensinamento que podemos ser amorosos conosco e com os alimentos, respeitando o que colocamos para dentro de nós, tendo prazer em nos alimentarmos – como seres que vivem e sobrevivem graças à Terra, que nos dá alimentos, água e ar, sendo que se aprende a amar e respeitar o lugar onde vivemos para que possamos alcançar nossas mais nobres metas como humanos.

Falar em sustentabilidade, para mim, é falar de uma situação de independência do ser humano e, ao mesmo tempo, de convívio pacífico e solidário. Vivemos num grupo que deve ser capaz de compartilhar essas coisas tão simples e preciosas que garantem a vida. Por isso, é fundamental na educação de uma criança ensinar o respeito à Terra e aos homens, como condição básica da nossa sobrevivência – sobrevivência com qualidade, com prazer.

Os cuidados ensinados como lavar o corpo são outro bom exemplo. Só é possível por uma experiência deliciosa de deixarmos o convívio com o ar e partirmos para o mundo das águas. A imersão é uma experiência regressiva uterina prazerosa por si e, quando acompanhada de um toque amoroso cedido pelos pais e cuidadores, pode ser um dos melhores momentos do dia. Banhos feitos em balde para recém-nascidos proporcionam uma leveza corporal na água que trazem imediatamente a memória corporal da vida intrauterina. Quanto prazer para este bebê!

Poder viver em paz com o ar, a terra, o fogo e a água. Tão simples, tão especial e, muitas vezes, tão difícil. Quando os cuidadores apresentam um mundo de belezas e respeito ao poder desses quatro elementos, com certeza a vida dessa criança poderá ser mais fácil e gostosa. A magia está em poder lidar com habilidade com eles todos. E é natural que as crianças queiram explorá-los e conquistá-los.

O respeito dos valores que constroem as condições para que possamos fazer opções o tempo todo em nossas vidas. Está aí a impressão que os pais podem oferecer para que seus filhos possam optar pelo que lhes será melhor. E será melhor quando se sentirem bem, fizerem opções que lhes tragam uma relação harmoniosa com o lugar que habitam e com as pessoas que dividem esse mesmo espaço. Percebo nesta possibilidade de trazer valores amorosos para seus filhos a transmissão do ensinamento de esperança que suscitou nos pais o desejo de gerar filhos, completando nesses o ciclo de gratidão e respeito pela vida, seja sua, de seus filhos, de seres vivos e de seu planeta.

Então são amor e respeito que sustentam os valores que projetam esse amor e respeito a outras pessoas, a forma de ganhar a vida, a Terra, na qual vivemos, e reflete em nós como uma grande experiência dadivosa que completa o ciclo da vida e do amor.

Como educadores, como pais, como pediatras, quando ensinamos uma criança a escovar os dentes, manter a torneira fechada e só abri-la quando for usar a água, ao mesmo tempo estamos podendo ensinar que esta escovação pode ser um carinho na sua boca, um gesto de cuidado com seus dentes e um respeito à natureza pelo não desperdício de água.

Isso tudo é muito importante; cada passo deste processo é tão importante quanto o outro.

E acho que devemos ficar felizes por termos esta imensa oportunidade de participarmos ativamente na construção deste tão sonhado mundo melhor. E que todos possam viver felizes para sempre....

— Carlos Eduardo de Carvalho Corrêa