quinta-feira, 30 de junho de 2011

Próximo passo é desenvolver políticas voltadas à infância




É NECESSÁRIO QUE AS ESCOLAS POSSAM DETECTAR RAPIDAMENTE OS ALUNOS COM PROBLEMAS CRÔNICOS DE CONCENTRAÇÃO

NAERCIO MENEZES FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA


Para que os programas de transferência de renda consigam ter efeitos de longo prazo, emancipando as crianças das famílias beneficiadas, duas políticas são necessárias.
Em primeiro lugar, é preciso desenvolver um conjunto de políticas públicas focadas na primeira infância.

Poderiam evitar que as crianças nascidas em famílias mais pobres acumulem deficiências cognitivas que irão dificultar sobremaneira seu aprendizado futuro.

Em segundo lugar, é necessário que as escolas públicas consigam detectar rapidamente os alunos com problemas crônicos de concentração e aprendizado e tenham programas de recuperação extraclasse que consigam reverter essa situação.

Caso contrário, as crianças permanecerão mais tempo na escola, para que as famílias continuem recebendo o benefício, obterão alguns anos a mais de estudo, mas abandonarão a escola assim que a condicionalidade terminar, sem ter conseguido acumular capital humano suficiente para uma boa colocação no mercado de trabalho.

No curto prazo, no caso do Brasil, sabemos que o Bolsa Família tem obtido resultados significativos na redução da pobreza e desigualdade.

Por exemplo, entre 2001 e 2009 a renda familiar per capita dos 10% mais pobres cresceu 120%, enquanto entre os 10% mais ricos o crescimento foi de "apenas" 20%.
Metade do crescimento da renda entre os mais pobres deveu-se ao programas de transferência de renda.

A outra metade teve origem no mercado de trabalho, via aumentos do salário-mínimo e dos anos de escolaridade entre os mais pobres.

Além de aliviar a pobreza com a transferência de renda, o Bolsa Família exige que as famílias beneficiadas mantenham seus filhos na escola e cuidem de sua vacinação.
A ideia é que a geração mais nova consiga sair da pobreza pelos próprios meios.
Afinal, com mais escola e saúde, os jovens, em tese, conseguiriam obter empregos melhores no setor formal da economia ou até abrir seu próprio negócio. Esses objetivos serão alcançados?
Nas condições atuais, é difícil que isto aconteça.

O elo que falta está na escola pública, que não consegue suprir as deficiências de aprendizado das crianças mais pobres.

Como essas crianças já chegam à escola com muitos problemas acumulados nos anos iniciais de convívio familiar, elas têm dificuldade para acompanhar os colegas de classe, fazer as lições de casa e serem aprovadas.

Dificilmente conseguirão obter o aprendizado que as permitiria continuar estudando e obter um bom emprego.

NAERCIO MENEZES FILHO , doutor em economia pela Universidade de Londres, é professor e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP (email: naercioamf@insper.edu.br).