sábado, 12 de agosto de 2017

Paternidade e Masculinidade: "Não considero a hipótese de ter papéis definidos dentro de casa"

Por João Carlos

Paternidade e Masculinidade: O título desta reflexão surgiu de um convite do querido Cacá, amigo e pediatra dos meus filhos e de toda a família.

Fico feliz de não ser um especialista em nenhum dos temas, o que me dá a liberdade de escrever uma reflexão na primeira pessoa. Fico ainda mais feliz de viver no século XXI, período em que as “verdades” subjetivas dos outros não precisam mais ser acatadas. O que é masculinidade e paternidade? Certamente a minha experiência se parece com a de muitos e se difere da de tantos outros, e é assim mesmo.

Imagem da revista Elle 


Meu primogênito nasceu quando eu já acumulava 43 anos de vida e onze de casado. Parecia apenas mais uma etapa na vida, na relação, só que não (adoro o século XXI). Aprendi há pouco com a impressionante coach israelense, Shiri Ben-Arzi, o conceito de estado liminar. É um período em que deixamos de ser algo conhecido e ainda não somos algo novo. Uma cerimônia de formatura, o noivado são estados liminares. O estado liminar da primeira gravidez não me preparou em nada para o que veio depois, a paternidade.

Tornar-me pai, processo em que me encontro há cerca de dez anos e no qual devo permanecer até o fim da vida, mudou praticamente tudo na minha vida, desde as pequenas coisas, como ir com menos vontade à mostra de cinema, até as grandiosas, como a forma de pensar a vida, a saúde e a morte. A família tornou-se o centro da minha vida, o principal condicionante da minha agenda. Não precisa ser, é claro, mas para mim foi e é. 

Não creio que exista a forma melhor de ser pai. Ausente, presente, neuroticamente onipresente, cada um propicia um conjunto de experiências a serem depuradas pela prole em meio a outras tantas influências, resultando em um legado que é deles, os filhos, não nosso. Logo, mantenho minha forma de ser, torcendo que o legado seja positivo (seja lá o que for um legado positivo). Em momentos perco as estribeiras, em outros ouço com atenção. Em momentos sou 100% presença, em outros peço que “me deixem trabalhar/conversar/ir ao banheiro.. em paz”.

Ouvi que ser pai/mãe é como jogar vídeo game, cada nova fase é mais difícil que a anterior. Não é a minha experiência. Cada dia tem se tornado mais natural e fácil que o anterior. Às vezes temos que lidar com grandes novidades, nem sempre boas, como correr para um pronto socorro, mas a média é um dia a dia cada vez mais simples e interessante. Ou seja, a paternidade se torna parte da minha forma de ser, junto com a carreira, a vida social, a vida afetiva...

Em parte, tento influenciar a vida de meus filhos, manifestando meus valores em atos e palavras. Eles que se virem para interpretar e formar seus próprios valores. E se forem muito diferentes dos meus? Não sei. Se vier a acontecer, espero ter a serenidade de perceber e conseguir buscar um equilíbrio.

Já a masculinidade, o que diabo é isto? Há tantas masculinidades a nosso redor. Desde o assassino que mata a Dandara a pauladas até a própria Dandara (será que ela concordaria comigo?) Adoro ser como sou, com todas as imperfeições e qualidades que tenho. Nada contra outras formas de ser, mas não considero a hipótese de haver papeis definidos dentro de casa. Se falta comida, vou ao supermercado, compro e faço. Se a Irene está com vontade de cozinhar, desfruto e, eventualmente, elogio a comida. Se nenhum dos dois esta a fim, sempre há lugares para se comer fora de casa. O mesmo pensamento vale para o envolvimento com a educação dos filhos, com a arrumação da casa, com os investimentos, com a alocação de tempo. Em alguns casos é necessário negociar, em outros é recomendável, em outros basta comunicar ao outro, em outros nem comunicar é preciso. Somos indivíduos compartilhando grande parte de nossas vidas.

Ainda há a masculinidade exercida fora da família. Sigo sem me apegar a rótulos e papéis pré-definidos. Para mim, no masculino cabe quase tudo que cabe no feminino, exceto o papel principal na concepção. Se você discorda, ótimo, teremos assunto para longas horas de conversa.

Dito isto, em que a paternidade afetou a masculinidade? Certamente a enriqueceu com experiências novas e marcantes. Exacerbou algumas facetas, como a participação dentro de casa, suavizou outras, como o papel do trabalho na vida, e não mudou a essência.

Feliz dia dos pais