segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Em resposta à reportagem da Mãe-Vaca

Nina com 9 meses e 10 dias


Ser mãe é dar-se, doar-se. Uma mudança radical no estilo de vida da mulher. Nestes dias de tempo ‘pos-contemporaneo’ a esmagadora maioria de nos é criada para ser mulher independente e provedora de suas próprias finanças. Juntamo-nos a nossos companheiros machos (ou fêmeas) para compartilhar a vida e não mais tanto com o intuito de ser providas por eles (elas).

Ai vem a maternidade: a total dependência. Nossa, porque dependemos muitas vezes da ajuda de terceiros para darmos conta de casa, filho(s), companheiro(a) e trabalho. Das nossas crias, porque são seres humanos que acabaram de chegar a este mundo terrestre, vindos de um mundo aquoso, quentinho e escurinho, que lhes supria com tudo o que precisavam sem que fizessem o menor esforço.

Quando minha filha Nina, agora com 10 meses, nasceu eu senti o impacto da dependência como uma paulada na cabeça. Sempre fui muito independente e ativa. De repente, la estava eu , sentada cerca de 10 a 12 horas por dia (cada mamada demorava cerca de 1 hora) envolvendo um ser humano pequenino , que não falava o mesmo idioma que eu, e que me sugava com forca e avidez. Ficava cansada e muitas vezes me senti ‘presa’.

No entanto, em nenhum momento pensei em fazer diferente. A escolha de ser mãe foi minha. Eu não sabia como minha vida iria mudar, mas ainda assim, a escolha foi minha e com ela viriam conseqüências (inimagináveis. Só vivendo minhas próprias experiências para senti-las).

Amamentar foi a coisa mais prazerosa que já fiz. É orgasmico por causa da oxitocina liberada. É sublime por causa do contato físico, visual e olfativo com o bebe. Eu aninhava a Nina em meus braços, cheirava ela, beijava ela, fazia carinho e olhava-a embevecida. Que obra divina de Deus !

E podia fazer tudo isso com as duas mãos porque agora que ela mama na mamadeira, uma das mãos esta ocupada segurando a garrafinha.

E porque a mudança do peito para a mamadeira ?

Minha historia com a Nina e a amamentação eh longa e por vezes dolorosa. Tive depressão pos-parto e a Nina não ganhou quase peso algum em suas primeiras semanas de aleitamento materno. A verdade eh que deprimida, por estar morando longe e afastada de amigos e família, com marido trabalhando o dia todo e empregada faltando, não me alimentava direito. Comia o que não precisava ser preparado e mal tomava água. São muitos os fatores que podem ter contribuído para a falta de ganho de peso dela: leite fraco, processo de amamentação/ sucção ineficiente, sei Lá.

Fui passar um tempo com minha família no Rio de Janeiro (onde nasci e fui criada) e lá fui aconselhada por um pediatra a introduzir duas mamadeiras por dia, após o peito. Resultado, a Nina pegou gosto, fui aumentando as mamadeiras e ela desmamou em uma semana. Fiquei desesperada porque com 2 meses, o maior vinculo mãe e filho e a hora da amamentação e todo o contato que isso envolve. Alem disso, sabia que o leite materno já vem pronto para uso. Com a formular vieram os problemas: cólicas, prisão de ventre e necessidade de muito funchicoria e água de ameixa, dinheiro gasto com latas, água mineral e mamadeiras. Eu detestava toda essa artificialidade.

Aos 3 meses de idade da Nina, resolvi mandar tudo as favas e usar translactador. Assim, garantia o leite que engordava ela (os Nan, Aptamil, Isomil, Nursoy e companhia) e o leite que supria suas necessidades imunológicas e afetivas (o meu). No inicio queria atirar longe aquela garrafinha que eu tinha que grudar com hidroporo no meu seio (e os deixava com marcas de alergia) porque eu queria só dar o peito e sentir todo o seu contato natural com a Nina. Depois desencanei e passei a ver o translactador como meu auxiliar, o que me permitia amamentar minha filha e fazer ela crescer saudável com leite misto. Me acostumei a ele e ao fato de primeiro ter que preparar uma mamadeira e depois colocar o conteúdo na garrafinha, alem de prender a sonda no hidroporo.

Minha filha acostumou com o fluxo mais alto da sonda e apenas de manha ao acordar, quando ainda estava sonolenta, mamava só no peito. Acostumamo-nos com nosso amigo de plástico e tampa amarela: o Medela SNS.

Quando voltei a trabalhar fora de casa em julho, passei a tirar meu leite com bomba elétrica da Medela (Pump in Style), o quer faço ate hoje. Minha produção foi caindo porque não há estimulo igual ao da sucção do bebe. Tiro hoje de 20 a 30 ml por dia, uma vez ao dia pela manha e farei isso ate não ter mais leite ! ‘De grão em grão, a galinha enche o papo’, diz minha avó. NO fim do mês, a Nina mamou ai entre 600 a 900 ml, ou seja, mais que meio litro a quase um litro de leite materno (que, diga-se de passagem, é muito mais saboroso que o leite de soja que ela toma J )

Se Deus me agraciar com uma nova maternidade, estou disposta a amamentar de novo no peito (que não caiu nada e só ficou maior e mais bonito) e a pedir ajuda ao meu amigo Medela se precisar. Aconselho ele a todas as mães que tem algum problema com amamentação e tiverem que recorrer a formula.

Estou preparada para dar mais de mim a outro ser humano, alem da Nina.

Termino com um muito obrigada ao pediatra da minha filha, o Carlos Eduardo (Cacá) Correa, um ser humano fantástico que além de cuidar da Nina (e de mim) com muito amor e compreensão, me indicou o caminho desta reportagem.

Obrigada também oportunidade aberta pela jornalista Fernanda que escreveu matéria tão controvertida, abrindo espaço para tantos protestos positivos sobre a amamentação. Como disse meu orientador de graduação em engenharia, Khosrow Ghavami, ‘faca o que fizer, o importante eh gerar polemica’.